26.3 C
São Paulo
sábado, 7/09/2024

Mais cultura, menos armas – Sonia Santana

Data:

Compartilhe:

O ex-secretário da Cultura, Mário Frias, e o atual, André Porciúncula, sonham com uma sociedade armada, fazem propaganda armamentista, exibem armas até no local de trabalho. Em 28 de março, durante reunião, André Porciúncula, então secretário nacional de Incentivo e Fomento à Cultura e responsável pela análise de projetos para incentivo pela Lei Rouanet, declarou que o governo tem R$ 1,2 bilhão para dois “megaeventos”, verba que poderia ser utilizada por produtores de conteúdos audiovisuais “pró-armas”.

Essa é a visão de cultura e produção audiovisual do atual governo federal. Uma sociedade violenta e dividida, na qual o dinheiro negado a manifestações culturais é destinado a propagar uma visão reacionária e armamentista. O Sindcine é absolutamente contra a flexibilização do acesso a armas de fogo e tem como ideal uma sociedade igualitária, na qual se possa andar em segurança e desarmado.

Ocorre que a promessa de Porciúncula não passa de bravata. Não contém verdade ou sentido.

Antes de tudo, não é possível afirmar que existe uma determinada quantidade de dinheiro (no caso, R$ 1,2 bilhão) para falar sobre determinado assunto (no caso, armamentismo). A Lei Rouanet (Lei de Incentivo à Cultura, 8.313/91) permite a empresas descontarem de seu imposto de renda devido o valor que empregaram no patrocínio de obras culturais.

Questionado por vários veículos de imprensa, Porciúncula não respondeu qual a origem do valor e como ele poderia ser direcionado para uma campanha armamentista. O que é verdade, infelizmente, é que o secretário nacional de Incentivo e Fomento à Cultura é hoje quem determina quais projetos serão analisados para ter acesso a recursos da Lei Rouanet, ou seja, é quem determina quais projetos terão chance de obter incentivo.

O valor mencionado por Porciúncula é simplesmente irreal: a Lei Rouanet foi modificada em fevereiro deste ano pela própria Secretaria Especial da Cultura e vários valores de incentivo foram reduzidos. O valor máximo a ser captado por projeto caiu de R$ 10 milhões pra R$ 6 milhões. Já os valores para financiamento de obras e eventos audiovisuais foram mantidos: Curta-metragem: R$ 200 mil; Média-metragem: R$ 600 mil; Mostra/festival: R$ 400 mil, quantias bem abaixo dos orçamentos de ficção atuais.

Mas o que tem a ver a Lei Rouanet com as produções audiovisuais brasileiras? Quase nada. Desde 2006 a Lei não permite financiamento de longas-metragens. Filmes e séries são financiados pela iniciativa privada ou subsidiados pelo Fundo Setorial do Audiovisual, que é uma parcela dos impostos recolhidos pela própria atividade do audiovisual, como cinema e televisão. Ou seja, o Fundo subsidia produções com receitas que o próprio audiovisual brasileiro gera.

MAIS – Acesse o site do Sindcine.

Conteúdo Relacionado

Lula 3 e os sinais da economia – Marcos Verlaine

O economista Paulo Gala — que é professor na FGV-SP e conselheiro da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) —, fez...

Sentido de realidade – Carolina Maria Ruy

Dizem, alguns jornalistas, que as tal das sabatinas são melhores que os debates. Não acho. Em geral os jornalistas que fazem as perguntas não...

Sincomerciários de Jundiaí intensifica luta por aumento real – Milton de Araújo

Com a chegada da data-base para o comércio varejista e atacadista em geral (1º de setembro), o Sindicato dos Comerciários de Jundiaí e Região...

Vote pela democracia e pelo desenvolvimento – Chiquinho Pereira

O Sindicato dos Padeiros de São Paulo, fundado em dezembro de 1930, é uma entidade sindical muito importante para os trabalhadores e trabalhadoras.Trabalhamos na...

Manchete e editorial – João Guilherme Vargas Netto

O Globo de domingo (1º/9) deu capa com manchete denunciando que “O Brasil já tem 153 patrões investigados por coação eleitoral”. E, em matéria...