Celebrar o Dia Mundial da Alimentação? – Paulo H. Viana

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Nesta quarta-feira, 16 de outubro, em que se comemora o Dia Mundial da Alimentação torna-se importante tecermos aqui comentário sobre esta data. Criada em 1981 com o intuito de possibilitar reflexão a respeito do quadro atual da alimentação mundial que envolve o combate à insegurança alimentar e à fome em várias partes do planeta a data foi escolhida para lembrar a criação da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), em 1945.

Trata-se de um apelo visando garantir segurança alimentar a todos e todas. Em outras palavras, visando assegurar o acesso a alimentos em quantidade suficiente e de qualidade independente de classe social, gênero, idade e/ou cor. Como brasileiro e dirigente sindical ligado à indústria de alimentos existem de nossa parte várias preocupações a respeito do assunto. A começar pelo problema da fome em um país que é apresentado via mídia e governos como o celeiro do mundo.

Não obstante isso, e todo o esforço governamental e de entidades não governamentais (ONGs) para eliminar em definitivo o drama da falta de comida, cerca de 14,3 milhões de pessoas estavam passando fome no Brasil, segundo o relatório “Estado da Segurança Alimentar e da Nutrição no Mundo”, da Organização das Nações Unidas (ONU), divulgado em julho de 2024 no Rio de Janeiro.

Em São Paulo, a maior e mais rica cidade brasileira, segundo pesquisa recente, resultante de parceria entre o Comusan-SP (Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional), o Obsanpa (Observatório de Segurança Alimentar e Nutricional da Cidade de São Paulo) e pesquisadores da Unifesp e UFABC, tem hoje 5,8 milhões de pessoas submetidas a algum tipo de insegurança alimentar e 1,4 milhão (12,5% da sua população) a passar fome. Percentual acima da média nacional.

Ainda que seja significativa a queda nos índices relativos aos que enfrentam algum grau de insegurança alimentar, o Brasil permanece inserido no chamado Mapa da Fome do qual havia saído há alguns anos. Situação inaceitável para os padrões de um país que ocupa o primeiro lugar em exportação de alimentos in natura e também processados.

A concentração cada vez maior da renda, entre outras questões, talvez seja o fator que mais pese no tocante a essa situação, vez que os dados da pesquisa relativa à cidade de São Paulo mostraram que sete de cada 10 domicílios seus moradores vivem algum tipo de insegurança alimentar, cuja renda per capita é de até meio salário mínimo.

Sendo assim, neste 16 de outubro, Dia Mundial da Alimentação, podemos considerar positivos os índices que apontam para uma redução entre os que sofrem alguma insegurança alimentar. Ainda assim é inadmissível uma sociedade que se diz democrática e grande produtora de alimentos tolerar essa situação, pois ela fere gravemente a nossa imagem como povo e nação, bem como a dignidade humana.

Paulo Henrique Viana, Presidente da Federação Independente dos Trabalhadores nas Indústrias de Alimentação do Estado de São Paulo.