O metalúrgico João Carlos Gonçalves (Juruna) foi reconhecido pelo Estado como perseguido político e, desde 21 deste mês, integra a lista dos anistiados brasileiros. Atual secretário-geral da Força Sindical, ele projetou-se nas lutas metalúrgicas, em São Paulo, nas décadas de 70 e 80. A militância lhe custou empregos e transtornos.
Afora o pedido oficial de desculpas pelo Estado, devido aos danos econômicos, políticos e pessoais sofridos, conforme os termos da anistia concedida, o dirigente adquiriu direito a pensão vitalícia de R$ 2 mil.
A Comissão de Anistia foi instituída pela Lei 10.559/2002, por Fernando Henrique Cardoso. É órgão de assessoramento do Ministro de Estado dos Direitos Humanos e da Cidadania.
Avaliação – A Agência Sindical falou com Juruna. Ele comenta: “A ditadura escolheu a classe trabalhadora como alvo permanente de sua política repressiva. O arrocho salarial virou política oficial de Estado. Então, essa política geral, em vários momentos, passou a atuar também de forma seletiva, atacando alvos no sindicalismo”.
A reparação, segundo o forcista, ocorre num momento em que setores importantes da sociedade e do Estado atuam pró-democracia. Ele diz: “O Estado Democrático de Direito é atacado por segmentos extremistas. Nesse contexto, é preciso que todos, mas especialmente os trabalhadores, defendam sem medo o regime democrático. Não podemos baixar a cabeça, mesmo nos momentos mais duros”.
JOC – A formação política de Juruna se deu na Juventude Operária Católica. Em julho de 1980, ele conseguiu emprego na Indústria Villares, em SP, como inspetor de qualidade. Foi eleito e reeleito para a Cipa (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes) – agora com um “a” suplementar: “a” de assédio.
Juruna recorda que ativistas sindicais eram seguidamente perseguidos por monitoramentos e informações repassadas pelas empresas (havia as chamadas “listas negras” – caía na lista, não conseguia emprego). Em outubro de 1983, Juruna foi demitido após greve e encerramento da campanha salarial metalúrgica.
O dirigente lamenta a colaboração estreita do grande empresariado com a ditadura. A Volks, em São Bernardo, por exemplo, recrutou para chefiar sua segurança um ex-gerente de campo nazista de concentração.
O advogado Alberto Albiero Junior representou Juruna na Comissão, onde o forcista conseguiu contagem para aposentadoria do período de outubro de 1983 a janeiro de 1984. O Estado brasileiro também lhe pagará pensão vitalícia de R$ 2 mil.
MAIS – Juruna (11) 99974-3547; Comissão de Anistia (61) 2027-3173.