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quarta-feira, 19/11/2025

Estudioso critica poder das redes

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O sociólogo, professor e escritor Sérgio Amadeu é estudioso da inclusão digital e ativo crítico dos oligopólios formados pelas big techs. Ele foi um dos implementadores dos Telecentros na América Latina e presidiu o Instituto Nacional de Tecnologia da Informação.

Recentemente, publicou artigo no Brasil de Fato, no qual denuncia que “Plataformas se convertem em estruturas geopolíticas da extrema direita” – o texto obteve ampla repercussão.

Nesta terça (21), ele falou à Agência Sindical.

O crescimento exponencial das redes sociais não se deu por acaso. Segundo Sérgio Amadeu, “houve muito investimento no Vale do Silício e muito dinheiro do Estado norte-americano e suas agências, na permanente busca por hegemonia tecnológica e quanto aos meios de comunicação”. Portanto, diz, “é lenda a história de que tudo começou numa garagem”.

As gigantes do setor, explica, formam imensos conglomerados econômicos, com poder de pressão e peso político. Como se viu na posse de Donald Trump, rodeado de magnatas das mídias digitais. O dinheiro que gira nesse mercado é astronômico. Mesmo plataformas de menor peso, como o Likedin, valem fortunas. A Microsoft comprou o Likedin por R$ 15 bilhões.

A ascensão política desses magnatas põe uma trava na regulação, porque essa ideia bate de frente com fundos poderosos, como o Vanguard Group e o Black Rock. Segundo o sociólogo, “nesse campo, os Estados Unidos somam Estado, capital financeiro e big techs”.

Com a vitória de Trump e sua pauta radicalizada, “essas empresas dão uma guinada pra extrema direita, engrossando a fala conservadora contra direitos trabalhistas, civis ou ambientais”.

Necessidade – O professor Sérgio Amadeu argumenta que a regulação “é indispensável em qualquer setor formal e legal”. Segundo defende, a regulação garantiria posturas socialmente mais aceitáveis na atividade econômica, o equilíbrio mínimo nas relações, sem interditar o debate sócio-ambiental. A extrema direita combate políticas de preservação.

Reféns – Não só no conteúdo, mas também na forma, os usuários das redes são reféns de um poder muito maior. Amadeu cita o caso dos algoritmos, que definem alcances, influenciam pessoas e orientam escolhas. “Informações são coletadas, o usuário não tem noção sobre isso e, afinal, se alimenta um imenso banco de dados dessas empresas”, critica.

Um método utilizado pelas gigantes é o que o estudioso chama de “economia da atenção”, pela qual, segundo ele, “as redes conduzem o olhar das pessoas, definem conteúdo e também a frequência dos acessos”. Ele resume: “O sistema de algoritmo modula comportamentos”.

A ausência de plataformas próprias nos países, com exceção da China, amplia o poder das big techs, que induzem o usuário a ficar mais tempo vinculado a um link ou conteúdo. Para tanto, “a prioridade não é o bom conteúdo e sim a especularização.” Esse tempo de permanência gera monetização e lucros.

Um aspecto pouco citado decorrente do crescimento avassalador dessas empresas é o impacto ambiental. Amadeu explica: “No caso dos data centers, o impacto ambiental já é maior que o da aviação civil. Gasta-se também muita água pra refrigerar milhares de computadores”.

Fake news – Uma das facetas mais conhecidas das redes são as notícias falsas ou fake news. Ele observa: “Muitas vezes nem é mentira direta e sim indução e manipulação, criando uma espécie de realidade paralela, incrementada pelos gatilhos emocionais”. Crianças têm perdido poder de aprendizado e a cultura do individualismo avança em leque.

Sindicalismo – Ante um poder com essa capacidade de influir, como as entidades devem falar às bases? Não existe bala de prata, mas é preciso buscar meios. Amadeu lembra que o Tik Tok, de origem chinesa, é muito seguido pelos jovens. Seu manuseio requer conteúdos curtos, envolventes e impactantes.

Para Sérgio Amadeu, os movimentos sociais e segmentos progressistas devem agir a partir da realidade. Quanto ao governo, precisa desenvolver políticas para o setor e injetar recursos nas iniciativas. Ele lembra a corrida espacial, quando os soviéticos ganharam a dianteira com a Sputnik. Isso levou Eisenhower, presidente dos States, a gastar imensa massa de dinheiro buscando retomar a hegemonia tecnológica e a narrativa pró-USA.

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