O 1º de Maio está longe de ser um feriado meramente comemorativo: é a celebração de conquistas históricas forjadas na mobilização, na resistência e na união da classe trabalhadora. Desde a Convenção nº 1 da OIT, em 1919, que instituiu a jornada diária de oito horas, até a consagração das férias remuneradas na Constituição de 1988, cada avanço reflete o que só se obtém com organização coletiva. No Brasil de hoje, porém, persiste o paradoxo de um país que se orgulha da “dedicação extrema” ao trabalho ao ponto de ignorar que ninguém é máquina: mais de seis milhões de brasileiros cumprem regularmente mais de 49 horas semanais, segundo o IBGE.
Neste 1º de Maio, a Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) reafirma seu compromisso com a pauta unitária aprovada pelas centrais na Plenária Nacional de 29 de abril e entregue ao presidente Lula como horizonte para um Brasil mais justo, soberano e sustentável. Essa convergência demonstra a força da unidade ao pôr no centro a redução da jornada sem perda salarial, o combate à precarização, a valorização do salário-mínimo, a regulamentação dos direitos dos trabalhadores por aplicativos e a defesa dos serviços públicos, sempre articulando essas diretrizes às realidades dos estados e municípios, onde a luta realmente se faz.
Duas demandas, contudo, merecem atenção especial neste momento de virada: a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, sem redução salarial, e o fim da escala 6×1. O Dieese estima que essa redução poderia criar até 2,5 milhões de novos empregos, além de aliviar a sobrecarga de quem hoje se vê obrigado a cumprir jornadas extenuantes. Pesquisa da Fiocruz, por sua vez, associa horários superiores a 40 horas semanais a um aumento de 50% no risco de doenças cardiovasculares. Quanto à escala 6×1, que submete o trabalhador a seis dias consecutivos de serviço para apenas um de descanso, estudos do Ministério da Saúde apontam índices alarmantes de exaustão e distúrbios mentais — um preço alto demais para a saúde física e psíquica.
Não se trata de idealismo, mas de pragmatismo: experiências no exterior comprovam que jornada digna não sacrifica produtividade; ao contrário, a estimula. Entre 2015 e 2019, na Islândia, mais de 2.500 funcionários passaram a trabalhar 35–36 horas semanais com salários intactos. O resultado? 62% relataram maior satisfação, 97% apontaram melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional e 42% encontraram redução significativa no estresse, sem queda na produtividade. Na Coreia do Sul, estudos do Gyeonggi Research Institute mostram que o teto de 52 horas semanais desencoraja jovens casais de planejar uma família — um dos fatores por trás do colapso demográfico.
A NCST, em sintonia com as demais centrais, tem levado essas pautas a atos e mobilizações por todo o país. Na última Marcha da Classe Trabalhadora, milhares de pessoas em diversos estados reforçaram ao parlamento e ao governo que não aceitarão retrocessos. Mas unidade não se faz apenas em eventos simbólicos: exige ação contínua, mobilização nos sindicatos de base, fortalecimento das negociações coletivas e articulação de soluções que atendam às especificidades regionais e setoriais.
O trabalho é o motor do desenvolvimento nacional, mas só cumpre seu papel se vier acompanhado de qualidade de vida. Defender a redução da jornada, pôr fim ao 6×1, combater a precarização e valorizar o salário-mínimo são peças de um mesmo quebra-cabeça: construir um Brasil onde o emprego dignifique, em vez de escravizar. Neste 1º de Maio, a NCST convoca toda a classe trabalhadora a se unir em torno dessa agenda ambiciosa e necessária. A luta continua — por dias de trabalho mais justos, por folgas que devolvam ao trabalhador seu tempo de vida e, sobretudo, pela reafirmação de que é possível conciliar progresso econômico com o respeito inegociável à dignidade humana.
FELIZ DIA DO TRABALHADOR!
Moacyr Roberto Tesch Auersvald
presidente da Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST)