Em 1980, a longa greve dos metalúrgicos do ABC chegou num impasse. Embora a pauta fosse basicamente econômica (15% de aumento), a ditadura politizou o movimento, atiçando o patronato mais radical e intimidando setores empresariais e do próprio governo que apoiavam a saída negociada.
O Senado documentou parte do esforço pró-negociação. A peça principal, no microfone da casa, é o relato do senador Teotônio Vilela (AL), acerca de suas gestões pelo atendimento das reivindicações e fim do conflito que durou 41 dias. Assim ele abre sua manifestação: “Fui a São Paulo, senhor Presidente, a convite da direção local do meu Partido. Lá, expuseram-me a tensa situação em que vivia e ainda vive aquele Estado”. Ele era do PMDB.
As falas do futuro “Menestrel das Alagoas”, bem como os apartes, a favor ou contra, nos relembram o alto nível dos debates, o respeito entre as posições opostas, as gestões do Cardeal Arns, a solidariedade ao movimento e os exageros do regime.
À certa altura, a ditadura enquadrou Lula e outros 14 dirigentes na Lei de Segurança Nacional e teve a petulância de prender os advogados José Carlos Dias e Dalmo Dallari. Assim, Teotônio encerra seu primeiro relato: “Vai aqui a minha denúncia, Sr. Presidente, e não adianta estar-se aqui a procurar este ou aquele ministro, esta ou aquela autoridade; só há um responsável, é o Presidente da República, por tudo o que vier acontecer em São Bernardo”.
Eram 140 mil de braços cruzados, orientados por Lula e outros líderes. Teotônio Vilela desabafa: “O aspecto mais terrível que verifico na situação dos metalúrgicos é a desumanidade com que esses homens vêm sendo tratados – ludibriados desde a primeira hora, quando apresentaram a sua pauta de reivindicações, pauta esta que não foi discutida”. O senador ressalta, persistentemente, a insensibilidade dos patrões e a repressão pelo regime ditatorial”.
Aquele movimento atravessou o histórico 1º de Maio de 1980, durando mais 10 dias. Teotônio lamenta a submissão do empresariado ao governo ditatorial e comenta que, com isso, os empresários teriam na volta trabalhadores humilhados, de cabeça baixa, sentindo-se escravizados.
Tempos – Mudaram-se os tempos. O Senado, enquanto Câmara revisora, era um fórum de debates e resoluções de interesse geral, ainda que sob pressão da ditadura.
Sou jornalista e não pesquisador. Peço, data vênia, que perdoem as incorreções que certamente o texto trará.
João Franzin, Agência Sindical.