18.4 C
São Paulo
sábado, 24/05/2025

OS POBRES – por João Franzin

Data:

Compartilhe:

Fui pobre, mas não muito pobre. Passei perrengues quando cheguei em SP, 1976, pois queria ser independente. Dividi prato de comida, mas fome nunca passei.

Quem está passando fome é o povo brasileiro: mais de 33 milhões.

Hoje de manhã, cobri a entrega de agasalhos num bairro carente de Guarulhos. Conversei, ouvi, entrevistei.

Dona Maria tem oito filhos. Dois trazidos pelo atual marido, três que ela teve com outro companheiro e outros três que era da irmã desmiolada, crianças que pegou para, no dizer dela, “não deixar morar na rua”.

Portanto, ela, o marido e mais oito: 10 pessoas. Marido faz bico de pedreiro. Ela cuida dos filhos. Família gasta um butijão de gás por mês – por lá custa R$ 130,00. Ela ganha R$ 400,00 de Auxílio Brasil.

Perguntei: – Tem gente aqui no bairro passando fome?

Ela: – Muita. Ontem mesmo uma vizinha foi em casa pedir um pouco de arroz.

Eu: – Pra senhora tem faltado?

Ela: – Com a graça de Deus, não.

Dona Maria frequenta a Assembleia de Deus, mas trabalha numa igreja católica.
Na Assembleia, entregam gêneros uma vez por semana. Na Católica, uma vez por mês. Ela, inclusive, recebe.

Quis saber se aumentou a procura. Resposta: – Demais.

Na igreja onde trabalha, tanta foi a procura que, em vez de uma cesta básica, a pessoa só levou um saco de arroz de dois quilos.

Todas as mulheres com quem conversei, disseram ter muita fé em Deus. Sem emprego, sem renda, sem comida, como criticar quem se apegue à fé e a uma ideia abstrata de Deus? Não tem como!

Perguntei se a situação no bairro havia piorado nos últimos anos. E de quem era a culpa.

Ela: – Daquele lá que tá no governo. Nele não voto mais. Vou votar no Lula.

As mulheres são a maioria da população brasileira e principalmente no eleitorado. São essas aí – pobres, gastas, donas marias, arrimos de família – que vão decidir a eleição.
Essa gente é muita e possui uma força emocionante. É preciso que o segmento político (e sindical, no meu caso) ouça essas pessoas, conheça suas vidas, entenda suas razões. É preciso e urgente.

João Franzin, jornalista e assessor sindical
www.facebook.com/joao.franzin.1

Clique aqui e leia mais artigos de João Franzin.

João Franzin
João Franzin
Jornalista e coordenador da Agência Sindical

Conteúdo Relacionado

Clamor popular pela redução da jornada – João Guilherme Vargas Netto

No Brasil republicano tem sido difícil a luta pela redução constitucional da jornada de trabalho, ainda que várias reduções tenham acontecido em empresas e...

A fase nacional é boa! – Josinaldo José de Barros (Cabeça)

Vivemos uma boa fase na economia. Para nós, sindicalistas, interessam mais diretamente os dados referentes ao emprego, ao desemprego, ao registro em Carteira e...

A sociedade do conformismo e a perda dos direitos dos trabalhadores – Eduardo Annunciato

Durante muito tempo, os trabalhadores aceitaram calados as imposições dos patrões. Mas foi essa exploração, principalmente após a Revolução Industrial, que fez nascer a...

União e mobilização nas campanhas – Murilo Pinheiro

Iniciadas há alguns meses, as negociações coletivas dos engenheiros se multiplicam em maio e junho, datas-bases de inúmeras empresas em que a categoria atua....

Emprego é estruturante- Adriana Marcolino

Visão restrita do mercado ignora subutilização da força de trabalho e tenta transformar emprego em problema.O mercado de trabalho brasileiro vem demonstrando avanços, puxado...