O ex-presidente Bolsonaro pode não ser condenado pelos muitos crimes cometidos, mas pelo menos por um precisa ser punido: o genocídio dos índios yanomami. Esse crime está caracterizado: genocídio é o morticínio deliberado de uma etnia, um povo.
O desprezo desse monstro degenerado por indígenas, negros, mulheres, gays e quilombolas vêm de longe. Sempre foi um discípulo de Hitler.
Em 1998, o então deputado disse o seguinte, em sessão da Câmara dos Deputados: “A cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e hoje em dia não tem esse problema em seu país”.
Dele, então, veio o esperado: inércia total diante de 21 denúncias sobre a trágica situação nas aldeias yanomais, cercadas por garimpeiros, contaminação por mercúrio, doenças e inanição.
Falhamos, esta é a verdade, como sociedade. Falhamos todos nós. Porque não basta denunciar, assinar manifestos, correr o mundo. É preciso agir, e não agimos.
Em situação de guerras, civis ou entre países, entram em ação a Cruz Vermelha, os capacetes brancos, as organizações humanitárias. No caso do genocídio dos ianomâmi, muitos gritaram, mas ninguém agiu.
A omissão do governo morticida poderia ter sido enfrentada com rigor, com, por exemplo, uma ação junto ao STF para obrigar o governo a dar apoio à entrada de organizações humanitárias na região.
Há lá garimpeiros armados, que mataram Dom Phillips e Bruno Pereira? Há. Mas deviam ter sido enfrentados com coragem. Como presumo que serão enfrentados agora.
Em abril de 1988 surgiu, não me lembro de onde, a denúncia de que garimpeiros – sempre eles – estavam dizimando índios yanomami. Ninguém agiu. Eu era diretor de jornalismo do SBT, tinha acabado de assumir e enviei para lá uma equipe com o repórter João Batista Olivi.
A reportagem de Olivi, dramática, emocionante, foi exibida em 108 países. O presidente José Sarney, alarmado com a repercussão, teve que agir. E agiu.
Os yanomami foram socorridos. Mas enfrentam agora situação pior, com muito mais mortes que em 1988. O presidente Lula foi lá, as imagens dramáticas estão correndo o mundo, o socorro chegou.
Mas é preciso que os garimpeiros sejam retirados, por bem ou à força; e que o responsável maior pelo crime pague por ele, nos termos da lei.
Fora disso, é omissão.
Luiz Fernando Emediato é jornalista, escritor e editor da Geração Editorial.