Em sua coluna semanal nesta Folha, a professora Maria Hermínia Tavares criticou minhas ideias sobre a centralidade da questão nacional, por ela denominadas de “nacionalismo embolorado”. Maria Hermínia se referia a uma entrevista sobre o lançamento de minha pré-candidatura à Presidência da República na qual eu pregava a união do país em torno da retomada do desenvolvimento, do combate às desigualdades e da valorização da democracia.
Na entrevista eu sustentava ainda que o Brasil vive um processo de profunda desorientação, marcado pelo confronto entre a agenda identitária das correntes progressistas e a guerra cultural, que constitui o centro da agenda do núcleo ideológico do governo.
O interesse nacional e as alianças heterogêneas para alcançá-lo naufragam nas águas revoltas desse confronto.
A ilustre professora admite que o meu “nacionalismo estreito” tem “curso livre entre políticos de diferentes partidos, para não falar nas três Armas” – no que deve ter confundido as armas do Exército com as Forças Armadas, que são três: Marinha, Exército e Aeronáutica.
É verdade que o nacionalismo guiou a trajetória de importantes líderes políticos da história do Brasil, a começar dos próceres de nossa Independência, o patriarca José Bonifácio de Andrada e Silva e o imperador Dom Pedro 1º. Nacionalistas foram ainda Dom Pedro 2º, Caxias, Tamandaré, Deodoro, Floriano Peixoto, Getúlio Vargas, Góes Monteiro, Juscelino Kubitschek, João Goulart, Ernesto Geisel, João Figueiredo e Leonel Brizola. E, nas três Forças apontadas por Maria Hermínia, embora não tenha sido e nem seja uma unanimidade, o nacionalismo sempre pairou como uma ideia profundamente enraizada.
A história do mundo nos últimos 200 anos foi uma disputa entre dois tipos de nacionalismo: o nacionalismo dominador das nações fortes, coloniais e imperiais, em confronto com o nacionalismo defensivo das nações emergentes em busca de afirmação nacional.
Os hinos, as bandeiras, os brasões de armas e outros símbolos nacionais constituem a expressão iconográfica e estética dessa época histórica. As manchetes dos diários e dos telejornais contemporâneos estão repletas de proclamações das reivindicações e ambições nacionais de norte-americanos, chineses, russos, israelenses e palestinos, apesar dos discursos globalistas no Fórum de Davos e nas reuniões da ONU.