Em 6 de outubro, os brasileiros voltarão às urnas para escolher seus representantes nas prefeituras e câmaras municipais. Em um cenário político cada vez mais polarizado, é essencial lembrar a importância do voto e da democracia como o melhor sistema para guiar uma sociedade, mesmo com suas limitações. O voto ainda é a principal ferramenta de participação popular no direcionamento dos rumos das cidades. Negligenciá-lo ou menosprezá-lo significa abrir mão de decidir sobre o futuro de questões que afetam diretamente o cotidiano.
A velha máxima de que “não escolher, é uma escolha” nunca foi tão verdadeira. A abstenção ou o voto nulo podem ser compreendidos como uma forma de protesto, mas, em última análise, o resultado eleitoral afetará a todos, independentemente de preferências pessoais. Prefeitos e vereadores eleitos terão o poder de decidir sobre políticas que determinarão a qualidade dos serviços públicos e o desenvolvimento urbano. Desse modo, mesmo quem se declara apolítico ou desinteressado em política sofrerá as consequências dessas decisões por pelo menos os próximos quatro anos.
As eleições municipais são, de fato, decisivas porque os serviços essenciais – tais como, saúde, educação, transporte e segurança – são diretamente influenciados por políticas locais. O transporte público que conecta bairros, os postos de saúde que atendem a comunidade, as escolas e creches que educam as crianças, e a segurança pública são temas diretamente afetados pelas administrações municipais. Logo, o voto nestas eleições representa uma decisão sobre o tipo de gestão que estará responsável por esses serviços fundamentais. Negligenciar a importância dessas escolhas é desconsiderar como o poder público impacta a vida de cada cidadão no dia a dia.
Neste cenário, surge a falsa dicotomia entre a chamada “nova política” e a “velha política”. Muitos candidatos que se apresentam como representantes de uma nova abordagem trazem, na verdade, uma roupagem diferente para práticas conservadoras e fisiologistas já estabelecidas. Esta nova roupagem de velhas práticas políticas serve, muitas vezes, apenas para camuflar a ausência de propostas concretas ou inovadoras. Em vez de lutar por mudanças efetivas, essas candidaturas frequentemente se escoram em discursos vazios, desviando o foco dos verdadeiros desafios municipais.
A verdadeira política, aquela que realmente interessa às pessoas mais necessitadas, é aquela que se propõe a transformar realidades. Essa boa política é a que promove mudanças palpáveis, garantindo serviços públicos eficientes e direitos humanos básicos, como o acesso à saúde, educação, segurança e moradia digna. Essas lutas políticas devem ser travadas nas ruas, nas fábricas, no campo e no parlamento, pois é por meio da mobilização social que os interesses coletivos ganham força.
Em tempos de retrocessos em direitos trabalhistas, como as reformas recentes que precarizaram as condições de trabalho e aumentaram a informalidade, é urgente eleger representantes que defendam políticas públicas inclusivas, focadas no desenvolvimento socioeconômico e na garantia de dignidade para todos. Precisamos ainda de candidaturas comprometidas com a implementação e articulação em nível municipal do projeto de reindustrialização nacional (Nova Indústria Brasil – NIB) proposto pelo Governo Federal. É necessário promover políticas públicas que fortaleçam o diálogo social, combatam a desigualdade e defendam os direitos trabalhistas, unindo a sociedade em torno de projetos que realmente façam a diferença. Essas eleições não apenas moldarão os próximos quatro anos, mas também atuarão como uma prévia do cenário político nacional.
Nesse sentido, a Federação dos Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São Paulo (FEQUIMFAR), representando os interesses de uma categoria com mais de 200 mil trabalhadores e trabalhadoras em todo o estado de São Paulo, lançou a “Carta dos Químicos para as eleições municipais de 2024”[1]. O objetivo da Carta é promover um amplo diálogo com os candidatos e candidatas locais comprometidos com a democracia, com o bem-estar da população, com a geração de emprego e renda, com a equidade de gênero, com a promoção da igualdade racial, da liberdade religiosa e de todo o conjunto de direitos sociais consagrados na Constituição Cidadã de 1988.
[1] Disponível em: https://fequimfar.org.br/fequimfar-e-sindicatos-filiados-divulgam-carta-dos-quimicos-para-as-eleicoes-municipais-de-2024/
Sergio Luiz Leite, Presidente da FEQUIMFAR e Vice-presidente da Força Sindical.