Após seis anos de retrocesso no país, o movimento sindical busca em suas raízes se reinventar para formar um novo pensamento que aproxime os dirigentes da base. O mundo digital fez com que o ser humano se tornasse mais individualizado. Com o isolamento, o trabalhador perde a percepção do quanto é explorado. A reestruturação das relações e a conexão com a nova classe operária serão os principais desafios para o terceiro mandato à frente da Federação Nacional dos Frentistas, entidade que ajudei a fundar.
O primeiro mandato foi marcado por grande adversidade. Assumi o cargo poucos meses antes da aprovação da Reforma Trabalhista. A retirada de direitos dos trabalhadores, o corte no custeio das entidades de classe e a introdução do negociado sobre o legislado exigiram muita habilidade dos dirigentes sindicais.
A resistência marcou este período sombrio. Apesar de termos menos recursos e menor capacidade de atuação, conseguimos manter os direitos já conquistados para a nossa categoria.
Essa reforma trouxe graves consequências para a proteção dos direitos sociais no país e ainda culminou na trágica vitória de Jair Bolsonaro em 2022. O que antes era um desafio, no segundo mandato, se tornou um pesadelo.
A luta passou a ser pela manutenção dos empregos dos 500 mil trabalhadores de postos de combustíveis de todo o país. Diante de um Congresso conservador, retrógrado e a serviço do capital, os frentistas tiveram seus empregos ameaçados. Vários projetos foram apresentados pedindo a revogação da Lei 9.956/2000, que proíbe a instalação de bombas de autosserviço nos postos de combustíveis. A Justiça também foi provocada e chegou a autorizar o abastecimento por autosserviço.
Com a união, organização e luta, conseguimos frear o avanço dessas propostas. É necessário manter a unidade para impedir que esses fantasmas voltem a nos atormentar.
Dado o avanço tecnológico no mundo do trabalho, enfrentamos uma batalha diária para mantermos os postos de trabalho abertos. A tecnologia é uma das principais preocupações, uma vez que o progresso deve ser um aliado do ser humano e não um fator de exclusão.
É preciso ouvir, interagir e dar voz a essa nova classe trabalhadora. Somos parte integrante desta transformação social. Para superar a resistência do trabalhador e compreender a complexidade desta mudança, é necessário deixar a zona de conforto.
A mudança é uma questão vital para a sobrevivência do movimento sindical. O que fizermos agora será um legado para as gerações futuras, assim como aconteceu com os que nos antecederam.
Temos o compromisso social de proteger os trabalhadores e a democracia no Brasil. Em conjunto, desenvolveremos um mecanismo de atuação e gestão que permita representar de forma digna essa grandiosa categoria.
Eusébio Pinto Neto. Presidente do Sinpospetro-RJ e da Federação Nacional dos Frentistas.