Precariedade em setor essencial à justiça social e ao desenvolvimento está entre os principais desafios nacionais. É urgente tratar o assunto como prioridade, também forma de combater a desigualdade racial que persiste no Brasil.
Aconteceu no domingo (20/11) a conclusão das provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2022, lamentavelmente ainda sem recuperar o nível de participação dos anos anteriores. Com 3,4 milhões de inscritos, a edição deste ano ficou à frente apenas dos 3,1 milhões de 2021, quando o impacto da pandemia se fazia sentir fortemente.
São preocupantes também diversas outras estatísticas sobre educação. Segundo levantamento da Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgado em setembro último, 11% das crianças e adolescentes entre 11 e 19 anos estão fora da escola no Brasil. Isso representa cerca de 2 milhões de jovens, em sua maioria pertencentes às classes D e E.
A pesquisa aponta que entre os que abandonaram os estudos, 48% o fizeram pela necessidade de trabalhar e 30% por não conseguirem acompanhar as matérias ensinadas.
Se elevar os níveis da educação pública no Brasil já enfrentava problemas mesmo antes da pandemia, o longo período em que as aulas presenciais tiveram que ser suspensas em 2020 e 2021 só ampliou o prejuízo a ser recuperado na formação de crianças e adolescentes.
Nesse cenário em que se impôs o estudo remoto, os mais prejudicados foram os alunos mais pobres e matriculados na rede pública, por aspectos que vão da dificuldade em se estabelecer um plano de ensino a distância eficaz às condições dos alunos de terem equipamentos e acesso a internet adequados para conseguir aprender de fato.
A disfunção ocasionada por esse processo mascara inclusive dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb 2021), conforme indicam especialistas. Aferido pelo índice de aprovação e desempenho em avaliações, o resultado pode não revelar o tombo real, já que no período de isolamento houve aprovação automática e muitos estudantes não fizeram as provas.
A urgência que se coloca, portanto, é ter um diagnóstico preciso do quadro nessa área, elegê-la como prioridade e traçar um plano estratégico sério e comprometido com uma transformação decisiva. Fazer frente a essa empreitada é absolutamente essencial para vislumbrar o Brasil como um país desenvolvido que ofereça condições de vida digna a toda a sua população.
Um salto de qualidade na educação pública é certamente o caminho inescapável para promover justiça social, combatendo inclusive a terrível desigualdade racial com a qual ainda se convive no País. Esse aspecto é apontado de forma bastante apropriada pelo engenheiro Luciano Machado, em entrevista ao portal SEESP e ao canal no YouTube, marcando o Dia da Consciência Negra, celebrado em 20 de novembro.
Hoje bem-sucedido, ele está entre a minoria que conseguiu vencer os obstáculos imensos com os quais as pessoas negras se deparam na busca por espaço na profissão, ainda majoritariamente branca. Entre todas as dificuldades, Machado mira certeiramente naquela considerada estrutural: a baixa qualidade da escola pública, onde está a maioria das crianças e adolescentes pretos e pardos, que trava o acesso à universidade e a um lugar no mercado. “Por si só, já faz com que tenha uma quantidade inferior de meninos e meninas indo estudar engenharia”, resume.
É mais que tempo de a educação ganhar importância de fato, e não só em discursos. Trabalhemos todos – especialmente os governantes eleitos em 2022 – por escola pública de excelência para todos.
Eng. Murilo Pinheiro – Presidente
Clique aqui e leia mais artigos de Murilo Pinheiro.
Acesse – www.seesp.org.br