Eu quero estar errado nos prognósticos que faço para as próximas duas semanas.
Prevejo um agravamento sem precedentes da situação social, que já vem sendo difícil. E nem menciono as tensões diárias decorrentes do golpismo explícito do presidente da República e de seus acólitos e seguidores.
Em primeiro lugar, constato o agravamento da situação sanitária, com doentes e mortes, complicada pelas iniciativas prematuras e desorganizadas de afrouxamento das regras e dos protocolos contra a doença. As curvas negativas irão subir e em alguns casos haverá o repique das contaminações, internamentos e mortes.
Juntamente com este agravamento, prevejo dificuldades inauditas nas relações de trabalho, com demissões em massa, a maioria delas sem o pagamento dos direitos indenizatórios e o fechamento puro e simples de milhares de micros, pequenas e médias empresas, o que acarretará também demissões sem direitos nem pagamentos.
O início de junho poderá concretizar uma sangria cruel do emprego acompanhada pelas eventuais vendas que não encontrarão compradores, pela produção que não se efetivará e pelos serviços que serão ainda mais desorganizados.
As duas curvas negativas, a da doença e a do desemprego, poderão se alimentar mutuamente criando um clima de caos social favorável às investidas presidenciais e a seus apelos à lei e à ordem.
Como fato relevante relativamente subestimado pelos veículos de informação e exemplo do que pode ocorrer de trágico, destaco a verdadeira rebelião popular ocorrida em um canteiro de obras da Andrade Gutierrez, entre Bahia e Piauí, provocada pelo desumano isolamento em um barracão de 19 trabalhadores afetados pela Covid-19 e objeto de repulsa da população enfurecida.
Enquanto se acelera o isolamento da equipe presidencial com uma bateria de notas de repúdio verbalizando a opinião pública majoritária que se afirma, a massa da população sofre ainda e sofrerá ainda mais com o avanço descontrolado da doença e com a sangria de demissões na base da estrutura produtiva.