O tabuleiro político-institucional das eleições de 2026 – Neuriberg Dias

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Os cenários políticos — nacional, estaduais e municipais — para o pleito presidencial de 2026 começam a se delinear com maior clareza, à medida que os diferentes atores políticos posicionam suas peças no tabuleiro político-sucessório. Com a proximidade do pleito1, cada decisão, aliança e movimento estratégico desempenhará papel crucial na definição de quem ocupará o posto político mais alto da República.

A configuração atual do tabuleiro político está intimamente ligada ao novo comando político do Congresso Nacional, aos resultados das eleições municipais de 2024, às regras do complexo jogo político-eleitoral, à definição e ampliação das coligações, à manutenção da frente ampla de partidos, além da avaliação de governo e da popularidade do atual presidente perante o eleitorado.

Estes fatores podem favorecer tanto à reeleição de Lula (PT) quanto a alternância no poder, abrindo novo ciclo político, com possíveis desdobramentos importantes para o País.

Nova liderança no Congresso
O primeiro fator é a formação da nova liderança no Congresso Nacional2, que será decisiva para definir as bases das alianças que influenciarão, diretamente, o processo eleitoral de 2026.

O posicionamento dos presidentes da Câmara e do Senado3, bem como a correlação de forças entre os partidos representados no Congresso, impactará na definição e aprovação de pautas polêmicas e a distribuição de recursos orçamentários, que vai fortalecer determinados grupos políticos.

Sidney Jard, em artigo sobre o semipresidencialismo de classe e os limites legislativos do pacote fiscal4, aborda essa atual dinâmica institucional. Segundo ele: “Embora o Brasil seja um País formalmente presidencialista, na prática, cada vez mais, tem caminhado para um sistema semipresidencialista no qual, em última instância, é o Congresso Nacional que define quem governa, como governa e até quando governa.

Em poucas palavras: presidencialista de jure, semipresidencialista de facto. Os governos Fernando Collor de Mello (1990-1992), à direita, e Dilma Vana Rousseff (2011-2016), à esquerda, são as expressões mais nítidas dos estreitos limites institucionais desse sistema de governo”.

Ele continua, e afirma que “considerando os distintos interesses econômicos representados pelo Poder Legislativo, eleito predominantemente em pleitos proporcionais, e pelo Poder Executivo, eleito em pleito majoritário, define esse sistema político como semipresidencialismo de classe, no sentido de demandar uma constante negociação parlamentar em torno dos interesses de classe e frações de classe representados por esses 2 poderes da República, sobretudo quando um presidente de origem popular e progressista precisa governar com um Congresso de origem elitista e conservadora. Nesse peculiar sistema político, ao contrário do que ocorre no presidencialismo, no parlamentarismo e no semipresidencialismo clássicos, o presidente da República depende da sustentação parlamentar para manter o seu mandato”.

Essa análise de Jard torna evidente como o Congresso exerce influência crescente sobre o Executivo, e delineia os desafios que qualquer presidente enfrenta desde 2014, conforme também abordei em artigo sobre “Os 3 desafios do próximo presidente da República5, publicado em 2021, no portal do DIAP.

Governadores, prefeitos e lideranças
O segundo fator é o papel dos governadores, prefeitos e lideranças regionais e nacionais na articulação de alianças, que pode fortalecer ou enfraquecer as candidaturas presidenciais.

As vitórias e derrotas locais moldam o apoio partidário, que altera o equilíbrio de forças em nível nacional.

Construir palanques sólidos nos estados será 1 dos principais desafios para os candidatos à Presidência.

Eleições municipais e correlação de forças
DIAP produziu balanço detalhado das eleições municipais6, com capítulo dedicado à correlação de forças entre os partidos na eleição de prefeitos em cada estado.

Em praticamente todos os entes federativos — estados —, observou-se a conquista de mais prefeituras por parte dos governadores em exercício de mandato, com destaque para o crescimento do chamado Centrão e da direita liberal, no comando das prefeituras7 em todo o território brasileiro.

Esse crescimento, não apenas reforça a importância das lideranças locais, mas também evidencia a necessidade de negociações complexas para garantir apoio durante o pleito presidencial.

O terceiro fator determinante será a definição das regras do jogo político-eleitoral, que ainda podem sofrer alterações. Nos últimos anos, mudanças importantes trouxeram o financiamento público de campanha em substituição ao privado, extinguiram coligações e implementaram federações partidárias nas eleições proporcionais, além de estabelecerem novas regras para a CD (cláusula de desempenho) e a distribuição de cadeiras, com base nos quocientes eleitoral e partidário.

3 alterações fundamentais
Essas mudanças fortaleceram o papel dos partidos e dos parlamentares na configuração do poder político. Destacam-se, nesse contexto, 3 alterações fundamentais.

Primeiro, a distribuição do fundo eleitoral público passou a considerar o tamanho da bancada eleita para os partidos na Câmara, tornando-se elemento essencial no jogo de forças.

Em segundo lugar, as novas regras da cláusula de desempenho limitaram o acesso ao Fundo Partidário e ao tempo de propaganda gratuita em rádio e televisão. Apenas 13 dos 29 partidos registrados no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) cumprem atualmente essa cláusula.

Para as eleições de 2026, a cláusula de desempenho será ainda mais rigorosa, aumentando de 2% para 2,5% o percentual de votos válidos exigidos dos partidos para Câmara dos Deputados. Além disso, esses votos precisarão estar distribuídos em pelo menos 1/3 dos estados, com mínimo de 1,5% em cada 1 desses, ou o partido terá que eleger ao menos 13 deputados em 9 estados, considerando os 26 estados e o Distrito Federal.

A discussão sobre possível minirreforma política8 — recorrente a cada véspera de eleição —, que pode incluir mudanças na legislação atual e criar até mais vantagens para os partidos, teria impacto direto nas estratégias das candidaturas. Alterações nas regras de distribuição e redistribuição de recursos também podem influenciar o cenário de forma significativa.

Coligações partidárias
O quarto fator é a definição ou ampliação das coligações partidárias. A capacidade de formar frente ampla de apoio será crucial para fortalecer candidaturas majoritárias.

O presidente Lula e o PT deverão trabalhar para manter ou expandir alianças, com partidos do centro, esquerda e centro-esquerda.

Por outro lado, a oposição buscará aglutinar forças de diferentes espectros políticos para apresentar alternativa competitiva. Palanques estaduais bem estruturados e o alinhamento de interesses entre lideranças locais e nacionais serão determinantes para garantir bom desempenho no pleito.

Avaliação do governo e de Lula
O quinto fator é a avaliação do governo e a popularidade de Lula. Esse elemento funciona como termômetro para o eleitorado e será fundamental para orientar as estratégias de reeleição ou de oposição.

Indicadores como inflação, crescimento econômico, geração de empregos e avanços em áreas sociais serão analisados de perto. Além disso, o impacto das redes sociais e a capacidade de engajamento digital influenciam diretamente o debate público, que molda a percepção sobre candidatos e políticas.

Com todas essas peças em movimento, o tabuleiro político das eleições de 2026 já começa a ganhar forma. Este ano vai ser decisivo para definir quais serão os principais jogadores e como cada 1 desses irá se posicionar diante de cenário político e social em constante transformação.

A dinâmica eleitoral está apenas começando, e cada movimento realizado agora poderá ser determinante no desfecho desse complexo jogo de poder, que entra em processo sucessório.

Neuriberg Dias – Jornalista, analista político e diretor licenciado de Documentação do Diap. É sócio-diretor da Contatos Assessoria Política.