O arrocho de Bolsonaro nos valores do Auxílio Emergencial não desagrada apenas o sindicalismo. O economista, professor e escritor Antonio Corrêa de Lacerda é crítico da redução, especialmente ante o agravamento da pandemia, piora dos indicadores econômicos e queda na qualidade de vida dos brasileiros.

Diretor da Faculdade de Economia da PUC-SP e presidente do Conselho Federal de Economia, ele falou com exclusividade à Agência Sindical.

TRECHOS PRINCIPAIS:

Conjuntura – “O arrocho do benefício ocorre numa conjuntura piorada em relação ao ano passado, quando se conseguiu Auxílio Emergencial de R$ 600,00. A pandemia se agravou, tornando mais difícil a atividade das pessoas. O desemprego cresceu. Muitas lojas e fábricas fecharam. O custo de vida subiu muito, principalmente no óleo de soja, gás de cozinha, arroz e no feijão. Aumentos absurdos”.

Consequências – “Os pobres ficaram três meses sem Auxílio Emergencial e quando ele vem dá apenas pra 30 cafés com leite, com pão e manteiga. É um abuso do ponto de vista sanitário, social e moral. Os mais pobres serão duramente castigados. Do ponto de vista econômico agrava a crise. Nosso PIB caiu 4,1% ano passado e vai cair também no primeiro semestre”.

Contramão – “É precário o argumento de que o governo não pode gastar. O mundo vive uma situação anômala. A maior parte dos países amplia o déficit e a dívida pública, com gastos extras forçados pela crise econômica e a pandemia. Os Estados Unidos têm adotado planos de peso pra complemento de renda das pessoas, investimentos e no apoio a determinadas atividades. No nosso caso, existe a agravante da crise política, o que eleva o grau de incerteza”.

Classes – “Setores da classe média e ricos ainda se protegem. Na questão do custo de vida, o IPCA traduz a inflação média. Mas pra maioria a inflação que conta é na comida, transporte, gás etc.”

Mercado – “A pauta sindical é correta. Os R$ 600,00 permitiram que pequenos negócios seguissem, mantendo os empregos, embora muitos tenham sucumbido. Agora, com os novos valores do Auxílio Emergencial, o impacto direto no consumo mais limitado e isso numa situação econômica fragilizada”.

Saída – “Adotar a pauta proposta pelas Centrais Sindicais não seria nenhum absurdo. Nos Estados Unidos, Biden aprovou pacote de US$ 1,9 trilhão e negocia um segundo que deve superar US$ 2 trilhões. Alega-se que nosso PIB é 10 vezes menor. Então, divida por 10 aquele valor aprovado nos Estados Unidos e teremos 190 bilhões de dólares. Ou seja, R$ 1,2 trilhão”.

Armadilha – “Impor teto de gastos é armadilha, pois não se sabe exatamente o que virá pela frente. O Estado não é família ou empresa. O Estado tem obrigações muito mais amplas. Sem renda, as pessoas vão recorrer a que a quem?”.

Caos – “Pra onde vamos? Para o caos, se é que já não estamos nele. Qual é o limite das pessoas frente à humilhação, desemprego e à falta de renda? O Brasil não é pobre: é mal distribuído e isso, que é estrutural, numa pandemia, vai se agravar”.

Mídia – “Exagera no mito da austeridade. Replica verdades absolutas. Não debate ideias”.

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