O Brasil tem área de 8.510.000 quilômetros quadrados. Nossa dimensão é continental. Aqui tem terra pra todos. Pelo menos, deveria ter.
Mas não é o que ocorre. A terra está nas mãos dos grandes proprietários, que há séculos se enriquecem com a especulação, a exploração de camponeses ou mesmo trabalho escravo. O cultivo é ainda muito pequeno comparado ao tamanho de nosso território.
Hoje, boa parte dessa produção vai para a exportação (em preços dolarizados). Soja, café, milho, carne de frango, carne bovina e derivados de leite. Muito desse trabalho é mecanizado, gerando poucos empregos, com salários precários.
O recente ataque a assentados em Tremembé-SP matou dois e feriu várias pessoas. É obra de jagunços, a mando de grandes proprietários ou especuladores. O fato voltou a alertar sobre o grave problema fundiário nacional, no campo e na cidade.
Qual a solução? Uma reforma agrária bem feita, com suporte financeiro e técnico aos pequenos proprietários. A pequena propriedade é quem produz o alimento que chega à nossa mesa. Portanto, quanto mais pequenas glebas menor o preço da comida.
Porque isso não ocorre? Porque os ricaços do agronegócio têm bancada própria no Congresso Nacional, financiam prefeitos e governadores e exercem um poder político espúrio – bancada do boi, do agro, da bala: todos farinha do mesmo saco.
Guarulhos – Mas não é só no campo que o problema persiste. Guarulhos tem 3.200 glebas devolutas. Essas terras poderiam servir à construção de casas populares, escolas, unidades de saúde ou equipamentos esportivos. Porém, ninguém mexe com isso, porque seria cutucar altos interesses. Ou, como diz o povo, “mexer com cachorro grande”.
Quando o trabalhista João Goulart era Presidente da República, ele propôs as reformas de base. Um pilar central era a reforma agrária, nas margens das rodovias, com indenização aos donos da terra. Jango queria também entregar 100 mil tratores aos pequenos proprietários. Essa mecanização faria uma revolução na vida brasileira. A bandeira da reforma agrária atiçou a extrema direita e em 1º de abril de 1964 Jango foi derrubado.
Sem terra onde produzir, milhões migraram para as cidades, provocando inchaço urbano, encarecimento dos lotes, favelização das metrópoles, violência, poluição de mananciais, doenças infectocontagiosas e degradação.
Em 1534, o rei de Portugal dividiu o Brasil em 15 Capitanias Hereditárias, fato que está na raiz da concentração agrária. Se a gente observar os sobrenomes dos políticos que ainda mandam no País verá que muitos são descendentes daqueles donatários. O latifundiário de ontem é o empreendedor do agro hoje.
Todo país desenvolvido já fez sua reforma agrária. Sem ela, o Brasil seguirá no atraso, assistindo à violência contra camponeses e assentados.
Josinaldo José de Barros (Cabeça), Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região.