Trump e os gregos – João Franzin

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Quem lê com atenção os mitos gregos se surpreende com a inteligência de seus heróis e a profundidade das lições contidas em sua mitologia.

Sobre todos pairavam os deuses do Olimpo. Zeus, o mais poderoso de todos. Outros, com imensos poderes e repletos de artimanhas em relação aos demais deuses ou com relação aos mortais.

Os deuses gregos estabeleceram uma linha vermelha para os humanos. Essa linha demarcava até aonde o humano podia ir. Jamais, porém, poderia avançar no território das autoridades divinas.

Prevalecia ali o conceito de hybris (ou húbris), que significa soberba desmedida ou tentativa de se igualar aos deuses. Esse erro era fatal e o autor da façanha veria a fúria colossal fulminá-lo por terra, mar e ar.

Prometeu, por piedade dos que viviam nas trevas, ensinou aos humanos fazer fogo. O domínio do fogo era atributo divino. Sua condenação: amarrado a uma rocha, eternamente, com o fígado exposto e uma águia a lhe comer um pedaço todos os dias.
Sísifo foi outro. Ao iludir a morte (manobra inaceitável pelos donos da vida e da morte), foi condenado, até o fim dos dias, a empurrar uma pedra montanha acima. A pedra caía e ele, novamente, a empurrava até o topo.

Na vida, e na política, também existe essa linha vermelha. A propósito, diz Shakespeare num dos seus textos: “Os deuses primeiro enlouquecem àqueles que querem destruir”. Evidentemente que Hitler, por exemplo, foi enlouquecendo aos poucos, até ir parar na cova rasa.

Olho para Donald Trump e me pergunto: – Será que sua sanidade mental passa num teste da revista Mad? Ao ameaçar invadir países, anexar territórios e expatriar violentamente imigrantes (já que ele não pode matá-los), Trump não estaria querendo se equiparar aos deuses?

Penso que ele acelera o passo na consumação do supremo erro, de cuja punição não terá escapatória. Espero que avance depressa, porque quanto antes cair em desgraça melhor para o mundo.

João Franzin, jornalista da Agência Sindical.
joaofranzin56@gmail