O Futuro segundo David Graeber

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O século XX derrubou ideais iluministas, sem construir nada no lugar. É 2020, e a tecnologia parou de causar fascínio, para exercer controle. A pandemia enviou um alerta histórico de que é preciso mudar de caminho. Atenderemos a ele?

Por David Graeber

Profissionais da saúde, trabalhadores de fábricas e prestadores de serviços essenciais foram aclamados durante a pandemia. São tidos como heróis do nosso tempo. Mas seus salários não aumentaram e são os mais propensos a perderem seus empregos quando a crise acabar. Como pode?

Porque a essência do trabalho deles não é fazer o mal. Considere os trabalhadores de emergência que estão lá, arriscando suas vidas, para que o sistema de saúde não entre em colapso. Na teoria, um movimento sindical é mais forte quando seu trabalho é essencial, e traz muito poder de barganha aos trabalhadores. Sendo assim. se os profissionais da saúde decidissem fazer greve por melhores condições e salários, sem dúvidas esse seria o melhor momento. Mas isso não acontece na realidade.

Por quê?

Em um certo sentido, eles têm muito poder. É um paradoxo. Parecido com aquela piada que diz que se você deve um milhão ao banco, você pertence ao banco; mas se você deve cem milhões, o banco pertence a você. Se uma pessoa tem tal poder que possa fazer muito mal aos outros, de modo muito imediato, ela se torna prisioneira da sua própria capacidade. Não pode usar esse poder — pois seria muito devastador.

Um mafioso, ou o CEO de uma empresa privada, só o que sabem fazer é o mal, mesmo fingindo o contrário. Então podem exercer seu poder impiedosamente. Já, como apontado pelas feministas, uma greve da saúde e dos trabalhadores do cuidado seria absolutamente devastadora, tão devastadora que eles não a fariam, pois se importam demais com as pessoas que começariam a sofrer e morrer imediatamente.

Mas ao menos a crise poderá abrir nossos olhos para esse fato: em última instância, uma economia é simplesmente o jeito que tomamos conta um do outro, que todo trabalho real é, no final das contas, um trabalho de cuidado.

Durante a pandemia, começamos a usar ferramentas de comunicação em larga escala — para a escola, trabalho e eventos sociais. Vemos agora que podemos viver sem a maioria das nossas viagens de trabalho e reuniões. Essas mudanças serão permanentes?

Nossos hábitos de viagem terão definitivamente que mudar, e isso vai afetar outras partes da economia.

David Harvey mostrou que, desde 2008, a retomada econômica — partindo do pressuposto que de fato houve uma retomada, o que é contestado por algumas pessoas — foi amplamente construída em volta de experiências consumidoras em vez de bens de consumo. Durante décadas, o crescimento econômico foi fomentado pela produção e venda de algo tangível. Automóveis. Smartphones. Em seguida, o fenômeno se acelerou com a venda de carros que vão quebrar dentro de alguns anos, ou celulares que vão ficar obsoletos. Mas agora a área de expansão é ainda menos tangível: é baseada na experiência, em ir para as Bermudas, comer fora, ou, se for um dos consumidores mais iluminados, viajar para a Floresta Amazônica, visitar um xamã e provar alguma droga psicodélica.

Harvey acrescenta que as classes trabalhadoras também se beneficiaram dessa tendência, pois vários novos aeroportos, hotéis, alojamentos para turistas e outras infra-estruturas foram construídas para sustentar as voltas ao mundo da classe média. Isso sem mencionar todas as plataformas digitais como Uber e Airbnb que ajudaram na financeirização dos setores turístico e de moradia.

Isso ele não disse, mas eu acrescentaria que é uma ironia que a construção civil, junto às indústrias extrativas, tornaram-se simultaneamente a principal base de apoio da direita populista, aquela que alega se opor a essa mesma elite cosmopolita, em nome da identidade nacional. E é claro que é essa classe cosmopolita, os ricos e seus aliados profissionais-gerenciais, que através desse modo de consumo propagaram o vírus pelo mundo afora.

Na Eslovênia e em alguns outros países europeus, o vírus foi disseminado por turistas de esqui, que retornavam das férias na Itália e na Áustria. Muitos deles médicos e outros profissionais de classe média ou classe média-alta. No entanto, o governo queria acionar o exército para evitar a entrada dos imigrantes no país para conter a pandemia.

Sim, eles vão culpar os migrantes ou os Viajantes — como os ciganos são chamados no Reino Unido — mas não os que viajam a negócios, claro.

Falando nisso, você conheceu o Mark Fisher quando vocês lecionavam na Goldsmiths? Meus colegas editoriais insistiram que eu perguntasse sobre Mark, porque o trabalho dele ressoa com muitos jovens intelectuais na Eslovênia, assim como alguns de nossos autores.

Esbarrei com ele algumas vezes e nos cumprimentamos, mas nunca cheguei a conhecê-lo. O que eu lamento muito, hoje em dia. Durante muito tempo, costumava pensar nele como uma pessoa irritante que conseguia plagiar minhas melhores ideias antes mesmo que eu as tivesse (risos).

De fato, vocês têm algumas ideias em comum…

E é surpreendente como tivemos ideias tão parecidas, pois nós nunca as discutimos. […]

Ambos eram fascinados pela ideia de carros voadores. Ou melhor… por que ainda não há carros voadores. 

Me irritava muito! Eu era uma criança nos anos 60, e éramos fascinados pelo programa espacial. Tinha sete anos quando pousamos na Lua. Todos sabíamos de que maneira o futuro deveria ser. Fiquei muito decepcionado que o 2001 da vida real não tinha nada a ver com o 2001 que todos vimos no filme. E o que me incomodava era… não apenas o fato de não acontecer, mas que ninguém se importava com o fato de não ter acontecido. Todo mundo agiu como se estivessemos mesmo vivendo essa era incrível de maravilhas tecnológicas. Mas não é verdade!

Claro, tínhamos portas que abriam sozinhas e os comunicadores do Star Trek. Mas claramente não tínhamos os tricorders ou qualquer uma das coisas realmente engenhosas. Onde estavam as drogas da longevidade, os feixes de teletransporte, os dispositivos antigravidade?

A indústria automobilística está tentando nos convencer que os novos carros elétricos são fascinantes. Mas foram apresentados pela primeira vez há mais de cinquenta anos atrás.

Exatamente! A essa altura, deveríamos estar explorando as luas de Saturno. É tão frustrante! Queria escrever um artigo parecido em 1999, mas todas as revistas ignoraram minhas propostas. Em vez disso, estavam celebrando o começo de um novo milênio com matérias previsíveis sobre estarmos vivendo em um mundo com maravilhas tecnológicas nunca vistas antes.

Então você esperou por mais de 10 anos para finalmente conseguir publicar o artigo?

Bem, infelizmente ele se manteve atual, e eventualmente cheguei ao ponto de poder publicar qualquer coisa que quisesse. Então criei algumas teorias sobre as razões para a grande estagnação tecnológica.

O engraçado foi que depois de escrever esse artigo, vieram dois tipos de resposta. Primeiro dos fanáticos por ciência, que frequentemente apareciam para me repreender dizendo que eu não sabia nada, ou então não ignoraria todas as coisas incríveis que estão acontecendo, ou que estavam prestes a surgir. Carros voadores estão prestes a surgir há quase 60 anos. O outro grupo eram os verdadeiros cientistas, que quase invariavelmente disseram: sim, verdade! É impossível receber verbas para pesquisas de base hoje em dia. O sistema está configurado para garantir que não haja mais nenhuma grande inovação.

Isso tudo é bem triste. Ensinamos nossos filhos a acreditarem que as coisas podem e vão ficar melhores. Mas depois… Nos disseram que os ideais iluministas de progresso e avanço tecnológico foram destruídos na Primeira Guerra Mundial. Mas depois disseram que foram desintegrados pela ascensão do fascismo. Ou Auschwitz. Ou a bomba de Hiroshima.

Depois veio Chernobyl…

Isso mesmo, e todo os outros grandes desastres tecnológicos do século XX. Mas perceba o padrão. Se os ideais tivessem mesmo sido apagados pela Primeira Guerra, não estariam lá para serem apagados novamente pelo fascismo. Ou pelo ataque a Hiroshima. Ou Chernobyl. Quer dizer então que nunca foram efetivamente apagados. Na verdade, isso sempre volta porque ainda não encontramos outra história para ensinar aos nossos filhos.

Assim como as mentiras inofensivas sobre o Papai Noel?

O que vamos dizer? “Desculpa, filho. A história é uma merda, as pessoas são horríveis, e tudo vai só piorar.” Então, quase que por culpa, ainda fingimos acreditar em um futuro melhor.

Isso vira um círculo vicioso. As crianças crescem aprendendo essa versão utópica da realidade, que é completamente falsa. Pouco a pouco, descobrem como o mundo funciona e, obviamente, ficam muito furiosos. Tornam-se adolescentes amargos. Alguns mais tarde viram jovens adultos idealistas e tentam mudar as coisas. Mas quando têm seus próprios filhos, desistem e redirecionam seu idealismo a eles, fazendo a mesma coisa: tentam construir uma pequena bolha onde podem fingir que as coisas vão mesmo melhorar. É o único jeito de justificar os compromissos morais.

Em Utopia of Rules você argumenta que há todo um sistema a cargo de tornar impossível qualquer tipo de pensamento ambicioso.

Sim, a máquina da desesperança.

A totalidade da burocracia?

Burocracias não são lugares em que a promoção é baseada no mérito. Nelas, a ascensão está baseada na disposição do indivíduo em entrar no jogo e fingir que o que importa é o mérito. É muito similar no meio acadêmico. Não é muito importante o quão inteligente você é. É mais importante fingir que as pessoas no topo têm alguma razão para estar lá, mesmo que você — e todo mundo — saiba que não é o caso. O maior pecado é acreditar que você tem alguma posição acadêmica por ser efetivamente bom em ensinar ou pesquisar.

Principalmente se você vem do contexto social errado, irá aprender que sim, é possível ser aceito como membro da elite, mas apenas se estiver disposto a agir como se sua maior aspiração na vida fosse ser aceito por eles — eles tendo ou não alguma razão efetiva para estarem lá.

O que nos traz de volta a Mark Fisher. Ele dedicou muito de sua escrita à síndrome do impostor. Vindo da classe trabalhadora, sempre sentiu que não pertencia à academia ou a qualquer outro grupo social. Sempre se sentiu uma fraude.

Eu também venho da classe trabalhadora, mas minha experiência é diferente de algum modo. Fui educado de uma maneira que meus pais diziam que eu era a pessoa mais inteligente que já existiu. Olhando para trás, era um pouco ridículo. Ninguém podia ser tão talentoso! Então nunca tive a síndrome do impostor, já que não sentia que não tinha o mérito intelectual para trabalhar na academia. Mas eu tenho constantemente a síndrome do impostor por não ser um adulto social. Eu continuo a ser tratado tipo: tudo bem, você é inteligente mas você não é de fato um adulto. Você não é uma pessoa real. Só está fingindo. Nesse sentido, estou constantemente sujeito a me sentir como uma fraude e isso afeta sutilmente seu senso de identidade.

Essa foi também uma das razões pelas quais você quase inventou sua própria disciplina acadêmica?

Você se refere à antropologia anarquista?

Sim.

Eu não fiz isso. Meu antigo mentor, Marshall Sahlins, estava começando uma série em panfletos, e sabia que eu estava envolvido na rede de ação direta. Se interessou pela minha visão, em pensar o anarquismo sob uma perspectiva antropológica. Então escrevi o ensaio como um exercício hipotético, como seria uma “antropologia anarquista”, e porque ela não existe. O problema é que ninguém lê o livro. Só leem o título.

Então, não, eu não sou um antropólogo anarquista no mesmo sentido que alguém poderia ser um antropólogo marxista. O marxismo é uma teoria que existe dentro da antropologia. O anarquismo é prática e existe dentro dos movimentos sociais. Nesse sentido, não há antropologia anarquista. Quer dizer, claro, você pode fazer antropologia de um jeito que seja útil para os movimentos sociais libertários, mas isso não é a mesma coisa.

Sua assistente me disse que você está trabalhando em seu próximo livro. E que certamente não se trata do coronavírus. 

Sim, é algo em que tenho trabalhado por um longo tempo com o meu amigo David Wengrow, arqueólogo na University College de Londres. Ficamos trocando de título mas por enquanto é esse: O futuro: um prefácio de 50.000 anos.

Você parece gostar de prefácios longos.

Você quer dizer assim como Dívida: os primeiros 5.000 anos? Bom, acho que sim. Na verdade esse prefácio é ainda maior, já que estamos tentando mostrar que a história humana como costuma ser apresentada é apenas uma versão secularizada da bíblia. Havia o Éden e em seguida a Queda. No começo, estávamos todos vivendo em grupos felizes de caçadores-coletores. Era o Éden. Depois inventamos a agricultura e tudo foi por água abaixo. Tivemos a propriedade privada e pela primeira vez nos assentamos. E assim que criamos cidades, temos também Estados e impérios e burocracias e extração de mais-valia. Pelo caminho também tivemos a escrita e cultura elevada e tudo veio em um pacote, pegar ou largar.

E essa narrativa está errada?

Essa narrativa é factualmente errada e nem sequer se aproxima do que realmente aconteceu historicamente. Caçadores-coletores não viviam exclusivamente ou até mesmo predominantemente em pequenos grupos igualitários de vinte ou trinta pessoas. Ao longo da história, parecem ter alternado entre pequenos grupos e micro-cidades. Podem ter formado estruturas sociais muito elaboradas, às vezes com polícia ou reis, mas apenas por alguns meses no ano. Eles então se dissipavam e passavam a viver em pequenos grupos. A agricultura mal afetou isso e as primeiras cidades eram na verdade muito igualitárias.

Isso parece muito com o historiador Yuval Noah Harari. Ele popularizou a ideia de que passar de caçadores-coletores a uma sociedade agrária foi a raiz de todo o mal.

Sim, é bem irritante. Não é só ele, mas ele está fazendo uma versão atualizada e moderna do que é essencialmente um Jean-Jacques Rousseau dos tempos atuais. Ele foi provavelmente um dos maiores advogados do ideal romântico do bom selvagem. Um ser humano puro e livre que ainda não foi estragado pela civilização europeia.

É por isso que Rousseau apelou aos seus compatriotas para voltarem à natureza?

De fato. Eu acho essa parte da história bem fascinante. Na verdade, Rousseau escreveu seu famoso texto sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os homens em resposta a um concurso.

Concurso?

Sim, a Academia de Dijon convidou os autores para escreverem sobre desigualdade.

A propósito, Rousseau não ganhou. Mas eu realmente gostaria de saber por que intelectuais franceses do século XVIII assumiram que a desigualdade social sequer tinha uma origem. Naquela época, a França era uma das sociedades mais hierárquicas possíveis. Por que presumiram que as coisas nem sempre foram assim?

Alguma ideia?

Eu não quero entregar o ouro, mas tem muito a ver com a crítica indígena americana da sociedade europeia, que foi surpreendente levada a sério na Europa. Talvez seja melhor esperar pelo livro.

Qual é a coisa mais assustadora que pode se tornar normal depois da pandemia? 

Eu prefiro falar das coisas boas. Como assim? De repente, entramos em uma zona onde a agência histórica ressurgiu. A humanidade acaba de receber o que pode ser considerado como o maior alerta da História. Nunca aconteceu antes nessa escala uma parcela tão grande da humanidade parar e dizer: o que estamos fazendo?

Essas são ótimas notícias potencialmente, já que estávamos praticamente a caminho do suicídio em massa.

E as más?

Bom, o outro lado disso é o próprio suicídio em massa. Nós estávamos beirando o apocalipse, convencidos de que nada que está a nosso alcance podia ser feito. O que me assusta é que possamos simplesmente dizer: ufa, graças a deus isso acabou, agora vamos voltar para nossas vidas antigas.

Nós vimos que o mundo não vai acabar se viajarmos menos, consumirmos menos, produzirmos menos. O mundo vai mesmo acabar, bem, da forma como o conhecemos agora, se nós não pararmos de fazer essas coisas. Como podemos convencer uma população moralista que a coisa mais importante a fazer agora é trabalhar menos? Se não pararmos, em breve estaremos encarando uma escolha entre desastres que fazem a pandemia parecer com um passeio no parque, e algum tipo de solução sci-fi que poderia dar terrivelmente errado.

Quão errado?

Bem, digamos que há apenas uma coisa mais assustadora do que um fascista que nega o aquecimento global: um fascista que não nega o aquecimento global. Só deus sabe quais tipos de solução uma pessoa como essa pode inventar.

De certo modo, dá para enxergar a pandemia como um experimento para a solução fascista à emergência climática que prevemos em cinco ou dez anos, se não pararmos com toda essa produção estúpida de carbono: fechar as fronteiras, culpar os estrangeiros, triar a população entre merecedores e não merecedores, normalizar o autoritarismo. Em seguida, vão tentar algum conserto tecnológico: semear cristais no oceano, eco-engenharia…

Alguns anos atrás, estava falando com Bruno Latour e ele me disse que estava muito preocupado que chegássemos a esse ponto, pois as únicas instituições grandes o suficiente para reagir na escala que o problema requer são os exércitos americano e o chinês. Com sorte, estarão operando juntos e não um contra o outro. Outro dia, estava falando com Steve Keen e ele acha que provavelmente vai ser a última opção, porque se as coisas esquentarem muito, grandes partes do extremo oriente se tornarão inabitáveis. Esperamos mesmo que a China vai apenas sentar e observar? Irão evacuar em silêncio suas províncias no Sul porque os americanos não querem recuar no carvão? No entanto, se começarem a mudar a composição da atmosfera, podem acabar colocando a Europa e a América do Norte de volta à era glacial. Quem sabe?

Mas apesar disso… Você ainda tem esperanças de que a humanidade possa ouvir esse maior alerta da História?

Acho que a coisa mais sábia que li a respeito foi de um físico que aponta para o fato que nosso verdadeiro problema é não reconhecermos que nós mesmos somos parte da natureza. Sim, claro, as mudanças climáticas são causadas pela idiotice humana. Aqueles que dizem que é um fenômeno natural estão apenas negando a realidade. Tudo isso é verdade. Mas já aconteceu no passado distante, antes dos humanos sugerirem, de a temperatura da terra flutuar para cima e para baixo em muitos graus. Se sobrevivermos por tempo o suficiente, talvez por cem mil anos, e isso começar a acontecer, bem, teremos que fazer algo a respeito, não é mesmo?

Mas se quisermos ser a “autoconsciência da natureza” como costumavam dizer no século XIX, talvez seja hoje o dia de tirarmos os políticos do caminho, pois são seres extremamente não-autoconscientes. Decisões como essa só podem ser tomadas por algum tipo de deliberação coletiva.

A boa notícia é que os experimentos com assembleias de cidadãos mostram que até mesmo pessoas aleatoriamente selecionadas, apresentadas aos fatos científicos, são, quase que invariavelmente, muito mais sábios em suas tomadas de decisão do que seus representantes eleitos. É possível tornar o povo como um todo mais esperto que qualquer indivíduo desse todo, em vez de mais estúpido. De certa maneira, é isso que é o anarquismo, encontrar meios para fazer isso. Isso pode acontecer. Mas vamos ter que começar a botar a mão na massa.

DAVID GRAEBER – Anarquista, antropólogo e professor no Colégio Goldsmith da Universidade de Londres . Anteriormente foi professor associado na Universidade de Yale. Graeber participa ativamente em movimentos sociais e políticos, protestanto contra o Fórum Econômico Mundial de 2002 e o movimento Occupy Wall Street. Ele é membro do Industrial Workers of the World e faz parte do comite da Organização Internacional para uma Sociedade Participativa (em inglês: International Organization for a Participatory Society)

Fonte: Outras Palavras