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domingo, 15/06/2025

Ainda há luta por mais mulheres na Engenharia

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Ainda há luta por mais mulheres na Engenharia | Neste 8 de março, dia de celebrar a luta por igualdade, justiça e respeito, cabe a reflexão consequente sobre como vencer o histórico atraso relativo à participação feminina nesta que é a profissão do desenvolvimento e da inovação

São incontáveis os avanços conquistados pelas mulheres na histórica batalha por plena emancipação e cidadania, igualdade e respeito a suas escolhas e decisões. No entanto, como sabemos, ainda há muito a se alcançar em inúmeros campos. E, lamentavelmente, a participação feminina na engenharia é um deles, já que a profissão, em pleno 2022, segue majoritariamente masculina.

Obviamente, não se trata do mesmo “Clube do Bolinha” de algumas décadas atrás, mas ainda deixa muito a desejar e segue distante da meta de participação igualitária entre os gêneros na profissão. Segundo dados do Sistema Confea/Crea e Mútua, há mais de 1 milhão de profissionais registrados no País, dos quais apenas cerca de 200 mil são mulheres, contra mais de 800 mil homens. No Estado de São Paulo, a estatística piora um pouco, com 48.282 engenheiras num universo total de 314.311.

O quadro é pertinente ao cenário do ensino superior no Brasil, também de ampla desigualdade, com as mulheres respondendo por apenas 21,6% dos estudantes matriculados em engenharia ou profissões correlatas, conforme levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) relativo a 2019 e publicado no ano passado.

Dado que não diz respeito exclusivamente à engenharia, mas à discriminação em geral, aponta a também minoritária ocupação dos cargos gerenciais pelas mulheres: elas são 37,4% da força de trabalho nessa posição frente a 62,6% de homens. A disparidade se amplia conforme se elevam os rendimentos e a faixa etária. O aspecto referente à idade pode indicar uma tendência positiva, pois é possível depreender que há distribuição mais equânime entre as novas gerações, apontando para um futuro mais promissor, felizmente.

Para além dos números frios a atestarem a exclusão, a dificuldade enfrentada pelas mulheres para se firmarem na engenharia tem testemunho, por exemplo, no atendimento feito às profissionais pela área de Oportunidades do SEESP, que oferece orientação à carreira. Os relatos incluem remuneração menor que a dos colegas, mesmo com maior qualificação; título de cargo inferior, embora com nível de responsabilidade equivalente; piadas sexistas; assédio moral e sexual; comentários sobre inaptidão para tarefas que exigem força física, ainda que isso seja irrelevante diante da automação e tecnologias disponíveis; e receio de perder o emprego caso decidam ter filhos.

É bem provável que nós, homens, se, além de todos os desafios de um ofício como a engenharia, tivéssemos que enfrentar cotidianamente esse pacote nada agradável de aflições, também ficaríamos longe da profissão, não importando quão forte fosse a nossa vocação e elevada a nossa competência.

Portanto, é urgente mudar esse quadro para que finalmente a longa luta por mais mulheres na engenharia tenha êxito. Se, por um lado, elas têm direito de estudar e se dedicar ao que bem entenderem sem que absurdos obstáculos surjam diante de si, por outro, a profissão precisa do contingente feminino dando a sua contribuição essencial ao desenvolvimento, à geração de riqueza e ao bem-estar da população.

Façamos um pacto – escolas, empresas, entidades de classe e profissionais – para superar essa barreira de uma vez por todas e não mais lembrá-la a cada 8 de março sem grandes avanços a comemorar. A engenharia está ligada ao futuro e à inovação; não pode ser símbolo de atraso na questão de gênero.

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Murilo Pinheiro
Murilo Pinheiro
Murilo Pinheiro é presidente do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (Seesp) e da Federação Nacional da categoria (FNE)

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