A indústria química possui grande complexidade em sua cadeia produtiva, abrangendo diversos setores, tais como, abrasivos, adubos, fertilizantes, álcool, biocombustíveis, defensivos agrícolas, produtos farmacêuticos, dentre tantos outros. Nos primeiros cinco meses de 2024, o saldo positivo na geração de emprego em todos esses setores foi notável, superando as expectativas, especialmente considerando que 2023 já havia sido um ano de expressivo crescimento.
Considerando apenas os setores com data-base em 1º de novembro, o setor de transformados plásticos se destaca como o maior dentro da cadeia química do estado de São Paulo em termos de postos de trabalho, sendo responsável por 51% dos vínculos de emprego. Esse setor é seguido pelos químicos de uso industrial, que representam 21% dos empregos, higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, com 8,5%, e tintas e vernizes, com 6%. Juntos, esses quatro segmentos compõem mais de 86% da indústria química paulista.
O setor de transformados plásticos merece um destaque especial, pois apenas entre janeiro e maio de 2024 já superou o número de postos de trabalho gerados em todo o ano de 2023. No ano passado, este setor foi responsável pela maior geração de empregos dentro da indústria química paulista, com a criação de 4.870 postos de trabalho. Notavelmente, nos primeiros cinco meses de 2024, a indústria de transformados plásticos já criou 6.814 postos de trabalho, demonstrando um crescimento acelerado e sublinhando sua importância na geração de empregos no interior da indústria química.
Parte deste crescimento se explica pelo desempenho da construção civil, que consome 25,4% dos materiais plásticos produzidos e tem sido impulsionada pelas medidas de estímulo econômico e pela retomada das obras de infraestrutura promovidas pelo Governo Federal. Iniciativas como o Novo PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) e o NIB (Nova Indústria Brasil) têm orientado a retomada da política industrial no país, evidenciando a interdependência entre as cadeias produtivas, o desenvolvimento econômico e a geração de empregos.
Por outro lado, no cenário internacional, a indústria química enfrenta grandes desafios, como o aumento das importações predatórias oriundas da Ásia, sobretudo da China. Mesmo com a desvalorização cambial, a balança comercial da química permanece profundamente deficitária, o que na prática impossibilita a geração de mais postos de trabalho e renda para o Brasil. A indústria química brasileira tem sua competitividade internacional ameaçada pelo baixo custo de produção dos países asiáticos, que estão sendo diretamente beneficiados pelo fornecimento abundante de petróleo e energéticos russos barrados pelos Estados Unidos e pela União Europeia – como resposta à guerra na Ucrânia.
Apesar do contexto geopolítico adverso, a recuperação do mercado consumidor interno e a retomada da atividade econômica brasileira ainda tem assegurado uma contínua geração de postos de trabalho na indústria química. No setor de químicos de uso industrial do estado de São Paulo, foram criados 1.229 postos de trabalho em 2023 e 1.071 somente nos primeiros cinco meses de 2024. O segmento de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos viu a criação de 3.529 empregos formais no ano passado, com 1.268 novos postos este ano. Já o setor de tintas e vernizes, que gerou 716 empregos em 2023, adicionou mais 520 neste início de 2024.
Este cenário de expressiva criação de empregos gera uma expectativa otimista para as campanhas salariais do segundo semestre na indústria química, com destaque às reivindicações por aumento real, pela ampliação do cartão alimentação e pela efetivação da igualdade salarial entre homens e mulheres. Conforme o balanço das negociações coletivas divulgado pelo DIEESE, 85,2% das negociações registradas no sistema mediador em 2024 obtiveram reajustes salariais acima da inflação, com aumento real médio verificado de 1,63%. Nas negociações realizadas durante o 1º semestre de 2024, nos sindicatos da base de representação da FEQUIMFAR, também conquistamos resultados expressivos, com aumentos reais nas indústrias farmacêuticas (data-base 1º de abril), de fabricação do álcool (data-base 1º de maio) e de brinquedos (data-base 1º de junho).
Após longos anos de estagnação econômica, precarização do mercado de trabalho e perdas salariais, vividos pelo Brasil entre 2016 e 2022, finalmente reconquistamos uma consistente política valorização salário mínimo. Soma-se a este novo cenário a retomada dos fóruns de diálogo social, a redução das taxas de desemprego, a efetividade das políticas de proteção social (seguro-desemprego, abono salarial e intermediação de mão de obra), contudo, ainda resta avançar na revisão da reforma trabalhista visando fortalecer a negociação coletiva e o sistema de custeio das entidades sindicais. Precisamos consolidar um patamar de crescimento sustentável capaz de reduzir a dependência de importados em diversas etapas essenciais da cadeia produtiva, articulando o NIB com a atração de novos investimentos produtivos, mas também com o mercado consumidor interno e com a geração de trabalho formal, protegido e de qualidade.
Sergio Luiz Leite, Presidente da FEQUIMFAR e
Vice-presidente da Força Sindical.