O filho de Jango está hoje no PCdoB e preside o Partido no Distrito Federal. Também integra instâncias de direção na sigla. Nesta quinta (14), nos reencontramos após alguns anos de distanciamento, até por causa da Pandemia. Com ele, o trabalhista histórico André Gaeta.
Pedi a João Vicente que falasse sobre Getúlio Vargas, que é o tronco da frondosa árvore trabalhista – até porque este mês de agosto marca os 70 anos do suicídio do pai do Estado brasileiro, da legislação social e do projeto desenvolvimentista soberano.
Reproduzo parte de sua fala:
“Eu sou partidário de um projeto efetivo de desenvolvimento. Mas entendo que esse projeto requer um compromisso nacionalista. Não se avança apenas com o desenvolvimento econômico. É preciso que ele contemple o interesse nacional, do povo, das pessoas.”
“Getúlio tinha clareza a respeito dessa necessidade e fez o que pôde pra avançar esse modelo, que sempre foi atacado pelas elites reacionárias e antinacionais. Por forças daqui de dentro ou lá de fora.”
“Fico pensando como é possível ficar na condição que estamos na questão energética, com a Eletrobras privatizada e o sistema energético totalmente esquartejado.”
“Os governantes privatistas abandonam o que é público justamente pra passar a ideia de que o particular é superior, tem mais eficiência. Já perdemos tantas empresas, criadas pelo Estado brasileiro, com dinheiro do povo brasileiro.”
“A época atual está dominada pelo capital financeiro e especulativo, totalmente contrário ao projeto que vem de antes mesmo do Getúlio. Vem do Júlio de Castilhos, passa por Alberto Pasqualini, por Jango, por Brizola.”
“Defendo que a própria esquerda faça uma reavaliação do projeto getulista, trabalhista e nacionalista. O papel de Getúlio precisa ser reavaliado, valorizado. Afinal, o que temos de concreto no Brasil além daquelas experiências?”
“O Getúlio articulou um projeto que contemplava ao mesmo tempo os trabalhadores e o empresariado. Tanto assim que criou o PTB pra classe trabalhadora e o PSD pro empresariado e a elite econômica e política do País.”
“Com o trabalhismo, o presidente Getúlio tentou uma situação de mais equilíbrio entre capital e trabalho. Mas hoje as relações estão muito desequilibradas, com precarização dos empregos, dos direitos e do próprio trabalho.”
“Em 2022 formamos uma frente ampla pra derrotar o fascismo. Mas é muito difícil governar com essa frente tão ampla. Eu não sei qual o cenário que vamos enfrentar em 2026 e se o arco formado em 2022 vai se manter. Vejo aqui e ali rachas na direita, mas é cedo pra se ter uma visão mais precisa de como isso vai ficar.”
“No meu Partido, vejo que se busca uma visão mais ampla sobre a experiência getulista. Da minha parte, eu defendo que o PCdoB reforce o debate e entendimento sobre a questão nacional, porque isso também nos aproximará mais da população e dos trabalhadores.”
“Certos setores da esquerda e da academia precisam rever os preconceitos em relação a Getúlio, à doutrina trabalhista, que, na prática, tem fundamentos socialistas, porque os próprios positivistas se consideravam próximos do socialismo.”
João Franzin, jornalista da Agência Sindical – Email: joaofranzin56@gmail.com