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João Carlos Gonçalves (Juruna) é secretário-geral da Força Sindical

Exclusivo. A jornalista e pesquisadora Maria Carolina Ruy entrevistou, para a Agência Sindical, o secretário-geral da Força Sindical, João Carlos Gonçalves (Juruna). Ela também coordena o Centro de Memória Sindical.

Juruna avalia o papel histórico do sindicalismo e ressalta a importância das Centrais Sindicais na atual conjuntura, com grave recessão, desemprego, governo radicalmente neoliberal e um Congresso Nacional alinhado aos interesses do capital.

Para Juruna, apesar da gravidade desta crise, os dirigentes têm mostrado maturidade, traduzida em ações unitárias e na defesa do povo brasileiro, como na questão do Auxílio Emergencial.

“A Central cumpre um papel nacional, responde a interesses sociais dos diversos trabalhadores, independentemente de suas categorias”, ele observa.

LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:

Como é a estrutura sindical hoje?
Existem os Sindicatos de categorias, as Federações e a Confederação de cada setor. E as Centrais Sindicais.

Se já há Sindicatos, Federações e a Confederação, é necessário existir Central?
As negociações coletivas são feitas pelos Sindicatos, Federações e Confederações. As Centrais Sindicais têm o papel debater questões sociais, como a Previdência, leis no Congresso, saúde, negociações com o governo estadual, municipal e federal. A Central cumpre um papel nacional, responde a interesses sociais dos diversos trabalhadores, independentemente de suas categorias.

As Centrais exercem um papel mais político?
Cada Central tem seus filiados e pode tomar decisões de acordo com sua direção, composta pelos dirigentes eleitos em congresso. Ela negocia questões de cunho social com os governos. E tem um peso maior do que os Sindicatos nas discussões mais amplas.

Ocorrem debates políticos na Central?
Sim. As Centrais analisam a conjuntura política, o Congresso, o posicionamento frente a algum projeto de lei, com qual deputado e senador precisamos conversar; esse debate as Centrais fazem.

Chegam a apoiar algum candidato em eleições?
Podem, mas não é a regra. Em geral as Centrais elaboraram um documento a todos os candidatos. Nos segundos turnos, a tendência é a Central fechar com o candidato mais sensível à pauta trabalhista.

Há debates entre as várias Centrais?
Essa é uma experiência está avançando. No ano passado fortalecemos a unidade de ação e trabalhamos a ideia de constituir um fórum sindical permanente. Temos reuniões regulares entre os dirigentes das Centrais.

Esse fórum consegue tirar resoluções conjuntas? Ou possíveis divergências políticas ou de método travam esse entendimento?
Na maioria das vezes, conseguimos unidade. O 1º de Maio Unitário em 2020 foi um grande exemplo. As negociações para o Auxílio Emergencial também se deram de forma unitária. As lutas contra a reforma trabalhista foram unitárias. No período mais recente, de 2017, 2018 pra cá, não houve grandes divergências entre as Centrais. Há questões pontuais, mas, em geral, se trabalha unitariamente.

Também podem ocorrer ações de algumas Centrais, não todas…
O fórum é bem democrático nesse sentido. Se três Centrais querem fazer alguma ação. Ou se há alguma resolução com a qual apenas duas concordam, não há impedimento. Não se cria antagonismo. Mas a busca da unidade é um caminho que os atuais dirigentes têm trilhado.

Você acha que isso aponta pra um processo de fusão? Ou trabalhar considerando as seis principais Centrais, Força, CUT, UGT, CTB, CSB e NCST, tem mais peso?
Não somos só seis. Já temos quase doze entidades que se declaram Centrais Sindicais. A busca de fusão será um debate necessário por uma questão financeira, de organização e até por proximidades políticas. A CGTB já está se aliando à CTB. Eu não diria que existe uma tendência de fusões, mas é um debate necessário.

Esse debate está sendo feito?
Tem havido conversas. A Força Sindical e a CTB têm tem congresso neste ano. Esse é um assunto que vai e vem. O que interessa é que se fortaleceu o fórum sindical unitário.

Você diria que as Centrais atuais, as seis mais consolidadas, correspondem ao que foi vislumbrado com a criação do CGT em 1962 e a Conclat em 1981?
Estamos caminhando pra isso, um comando geral. O fórum se transformou nisso. Um instrumento onde os presidentes e demais dirigentes trocam ideias e planejam ações. O CGT era a congregação de cada ramo, do ramo da indústria, comércio, agricultura, e as entidades se reuniam em torno do CGT.

Vamos pegar a Conclat, que pensou em uma estrutura sindical. Essa estrutura permanece? E ela gerou as Centrais atuais?
O que se sonhava em 1981 era uma única Central. Não conseguimos. Mas, a partir dos conflitos ocorridos na década de 1980, e depois com a criação da Força Sindical em 1991, as relações entre os diferentes grupos, e ideologias diferentes, foram amadurecendo. Exemplo disso são as marchas unitárias da década de 2000.

Haver mais de uma Central vai contra o projeto de criação de Centrais de 1962 e 1981? Surgiram a CUT em 1983, a CGT em 1986, a Força em 1991 etc. O fato de haver seis Centrais vai contra esse sonho?
Não vejo incompatibilidade. Entendo que o projeto de se criar Centrais deu certo. Foram criadas seis. A experiência mundial não foi por aí. Poucos países têm uma só Central. Seis está razoável. Nasceram porque houve os rachas internos, e se fortaleceram. Poderia ser três ou quatro. O problema é que já tem doze. Fica muito fácil rachar. Torna-se uma coisa banal. Nosso problema não está aí. O problema é que o movimento está sufocado na parte financeira; creio que as fusões tenderiam também a diminuir custos e fortalecer posições políticas na ação.

Você entende que a reforma trabalhista foi um ataque ao movimento sindical? A reforma tem um fundo de reprimir as Centrais?
Eu acredito que os Sindicatos também foram prejudicados financeiramente. E, por isso, eles não têm repassado suas cotas às Centrais. As verbas das Centrais provêm dos filiados. Essa dificuldade abala o movimento. Não só as negociações coletivas, como prejudica a estrutura nacional para os enfrentamentos e os embates em Brasília ou nos locais de trabalho. Temos ido menos à Brasília. Não é uma logística fácil. Então essa solução tem que ser buscada. Estamos buscando junto aos parlamentares o debate sobre como regulamentar a situação.

As Centrais foram mais prejudicadas que os Sindicatos com a reforma?
Financeiramente, sim.

O que você diria pra que os Sindicatos valorizassem mais as Centrais? Há Sindicatos grandes que já dão essa importância às entidades…
Ter uma Central forte – ou seis, como no Brasil – dá ao movimento condições de enfrentar o governo. Através de mobilizações nacionais e manifestações diversas. As Centrais dão renome a seus dirigentes e isso abre espaço na mídia, amplia a voz do movimento. Isso demanda articulação. E também demanda financiamento pra estrutura, carros de som, advogados, economistas, uma comunicação forte… O que queremos? Queremos Sindicato que lute pela categoria, Federação que organize regionalmente, uma confederação nacional da categoria, mas precisamos, além dessas três instâncias, de Centrais nacionais que congreguem as lutas em torno de demandas como educação, saúde, previdência, legislação trabalhista, questões que são decididas em Brasília ou nos governos regionais. Uma organização que una os diversos Sindicatos, Federações e Confederações.

Você diria então que a retirada do financiamento sindical em 2017 foi deliberado, contra o movimento?
Não tenha dúvida. Foi pensado pra diminuir nosso poder de ação e de enfrentamento.

Como resolver isso?
Estamos dialogando no Congresso Nacional, com os diversos partidos. Procurando entender e mostrar qual é o papel do sindicalismo na sociedade. Papel de ser porta-voz dos trabalhadores, negociar conflitos e até evitar prejuízos do ponto de vista da produção. Porque, com bons acordos, bons salários, pessoas experientes em mediar conflitos, isso ajuda não só os trabalhadores, mas também os empregadores.

Carolina Maria Ruy, jornalista, pesquisadora e coordenadora do Centro de Memória Sindical – www.cms.org.br

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