A história oficial é escrita pelos vencedores. E a história verdadeira nem sempre é contada por seus reais personagens. Os homens dominam amplamente as narrativas históricas. Porém, as mulheres, aos poucos, vão abrindo picadas nessa mata fechada.
Um dos exemplos é o de Margarida Maria Alves, a mulher que inspirou a “Marcha das Margaridas”, o maior movimento feminino e trabalhista do Brasil. A sindicalista camponesa foi assassinada dia 12 de agosto de 1983, com um tiro de espingarda. O homicídio aconteceu na porta de sua casa, em frente à sua família, em Alagoa Grande, na Paraíba.
Em 2000, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura e outras entidades tiveram a iniciativa de começar a Marcha das Margaridas. Elas vão sempre até Brasília, para onde as camponesas, pescadoras, extrativistas e outras trabalhadoras levam suas reivindicações.
Este ano, entre os dias 15 e 16, aconteceu a 7ª Marcha. A categoria metalúrgica foi representada por nossas diretoras Márcia de Aquino e Raquel de Jesus. Havia cerca de 100 mil manifestantes.
As trabalhadoras foram recebidas por vários ministros e ministras e no encerramento se encontraram com Lula. O presidente atendeu itens da pauta das Margaridas e assinou diversos decretos. Também liberou recursos pra reforma agrária e a famílias alojadas em assentamentos, como também anunciou programas a jovens trabalhadores rurais. O nome de Margarida passou a integrar o Panteão dos Heróis e Heroínas da Pátria.
A 7ª Marcha das Margaridas havia sido interrompida pela pandemia da Covid-19 e pelos quatro anos do governo de extrema direita, que preferia a relação com milicianos a receber trabalhadores e debater nossas pautas. A chegada ao poder de um governo progressista mudou esse panorama.
Penso que as direções sindicais urbanas devem extrair lições da Marcha das Margaridas, pela sua dimensão nacional, com milhares de participantes, acerto da pauta de reivindicações e capacidade de articulação com autoridades do governo. O êxito das camponesas, pescadoras e extrativistas é porque a Marcha faz um movimento de baixo pra cima.
A pauta das Margaridas busca mais recursos pra reforma agrária e apoio aos assentamentos. É uma reivindicação justa. O agronegócio é importante, claro. Mas pra produzir alimento quem cumpre esse papel é a pequena propriedade. Precisamos fazer a reforma agrária defendida por Jango, Julião e as Margaridas. Até porque o aumento na produção baixaria o preço do arroz, feijão, mandioca e muitos outros produtos que compõem a mesa do brasileiro.
O Brasil passa por um momento de fortalecimento da democracia e reconstrução nacional. E todos nós devemos ajudar nesse sentido, com organização e luta. E também nos inspirando em exemplos, como o de Margarida Maria Alves. Ela sempre dizia: “Da luta eu não fujo”.
Josinaldo José de Barros (Cabeça)
Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região.
Diretoria Metalúrgicos em Ação