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segunda-feira, 30/12/2024

Montadoras aceleram os preços

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“Estão reclamando do quê? O brasileiro desceu da árvore e entrou num Volkswagen!”. A frase, racista e inacreditável, foi dita por um presidente da montadora, lá pelo final dos anos 80, quando se reclamava da qualidade dos autos produzidos no País.

A gente mesma empresa, após denúncia no Ministério Público Federal, teve de aceitar a realidade dos fatos, ou seja, sua parceria com a política da ditadura. Teve que ir além e indenizar vítimas ou familiares de pessoas que sofreram repressão na fábrica.

Essa postura do “dane-se o brasileiro” (na verdade, o verbo é outro), está reafirmada na política de preços dessa e outras montadoras. O suplemento EU/Fim de Semana, do Valor Econômico, afirma: “Montadoras elevam preços bem acima da inflação e deixam o sonho de consumo mais distante pra maioria dos brasileiros”.

A matéria, por Marli Olmos, ocupa quatro páginas do tablóide. O texto informa que o Brasil ocupa 0,45% do mercado mundial. Entre 2019 e 2020, as vendas de autos caíram 26%. O fato emblemático da decadência é o fechamento da Ford.

Abusos – No ano passado, as automotivas aumentaram seus preços entre 15% e 20%. Já o IPCA ficou em 4,52%. O Jeep Renegade, queridinho da classe média, custa R$ 137,8 mil – seu reajuste foi de 19,35%.

O Gol, da Volks, carro tido como popular, subiu 16,89%, ante inflação estimada de 7,72%.

Salário – O aumento no preço dos veículos não guarda relação com os reajustes salariais. Em 2020, os metalúrgicos ligados à FEM CUT (em cuja base há várias montadoras) tiveram 2,94%, na data-base de setembro. Bases metalúrgicas onde é forte o setor de autopeças (como Guarulhos e Osasco, no Estado de SP) receberam 4,75% – data-base é novembro, mas o reajuste recai em janeiro.

Imposto – Um dos motivos no preço alto é a taxa de impostos. O Valor informa que, no Brasil, a carga sobre o veículo está em 41,9%. Na Itália, 22%. Estados Unidos, 7,3%. Porém, há um ganho salarial para as empresas, porque o padrão de remuneração no Brasil é bem mais baixo que o italiano e muito menor que o norte-americano.

Juros – Pra obter rendimento maior, as montadoras abriram bancos. A Volkswagen tem o dela. Um carro popular, linha Gol, segundo anúncio, tem 0,99% de juros ao mês. A depender da entrada, a taxa cai pra 0,65%. No país de origem da empresa os juros estão perto de zero. Ou seja, aqui, ganham no preço da unidade e também faturam no financeiro.

História – O primeiro veículo Volks foi montado no Brasil em 1957. A mão de obra especializada veio da Alemanha. Na rua Maria Antônia, Centro de SP, fundos do estacionamento do Grego, funcionava “a oficina do Alemão”. Ele teria ajudado a montar o primeiro veículo em São Bernardo. Alemão dizia que, à época, “um fusca custava 11 salários mínimos”. Hoje o mínimo é de R$ 1.100,00 e um carro popular custa pelo menos 50 salários. Ou seja, o imposto não explica tanta diferença.

Mais – Ao fazer a conta que lhes interessa, as montadoras não computam a imensidade de alqueires recebidos de graça, as melhorias urbanas e a isenção fiscal por pelo menos 10 anos.

Texto de João Franzin, da Agência Sindical.

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