As previsões do mercado financeiro sobre a economia não têm dado certo, estão falhando. Subestimam o crescimento econômico e superestimam o aumento da inflação. Já falamos sobre isso, mas é sempre bom lembrar que, por de trás dessas previsões pessimistas há grandes interesses, que tem a ver com dinheiro.
A resposta à indagação de o porquê a economia está crescendo além das expectativas dos sabichões das finanças não é complicada. Cresce porque aumentou a renda dos pobres. As políticas públicas, especialmente na área social e implementadas nos últimos anos, têm provocado um aquecimento no mercado de alimentos e de produtos populares, que se espalha por toda a economia.
A volta da política de valorização do Salário Mínimo, que repercute nas aposentadorias e benefícios da Previdência Social, a extinção da ‘fila do INSS”, com a solução dos vários problemas que por lá se represavam, inclusive concessões de novas aposentadorias, benefícios, pagamentos do BPC etc., já deram um primeiro estímulo a economia. Essas pessoas tiveram suas rendas aumentadas e, agora com mais dinheiro nas mãos, aumentaram seu consumo.
Esse empurrão inicial repercutiu no mercado de trabalho, que se aqueceu, com o aumento do emprego, tanto o formal quanto o informal. A economia entrou no que se chama de ‘ciclo virtuoso’ de crescimento. Com o retorno da dinâmica econômica e aumento do emprego, os salários voltaram a crescer, levando o salário médio dos trabalhadores a valores superiores aos que vinham sendo praticados. Quanto aos lucros, sim, também aumentaram.
A exemplo dos salários, o aumento dos lucros é extremamente importante, uma vez que ele estimula as empresas a aumentarem a produção. Quanto maior o lucro, maior o estímulo e mesmo a necessidade de fazer crescer a produção e, para isso, no curto prazo, aumentam o emprego e, nos médio e longo prazos, precisam elevar o investimento, o que é uma garantia de maior emprego, renda e produção futuros. É dessa forma que a economia entra no caminho do crescimento econômico sustentado.
Essa lógica econômica vemos na prática, mas também está presente na teoria econômica. Na prática, é o que estamos assistindo e o que os trabalhadores sempre reivindicavam e argumentavam nas mesas de negociação com os patrões: salários maiores, maior consumo e maior lucro. Afinal, a economia é uma grande roda que deve girar incessantemente.
A teoria econômica, por seu lado, confirma e endossa essa concepção de ‘ciclo virtuoso’. Existem dois princípios básicos da teoria que sustentam esse ponto de vista. O primeiro é o ‘efeito multiplicador’, em que um estímulo inicial perpassa a economia e vai se multiplicando nos vários setores produtivos. O empurrão inicial pode ser dado, tanto pela iniciativa privada, através dos investimentos, quanto pelo governo, quando faz políticas públicas que aumentam a renda das pessoas.
O outro princípio tem a ver o aumento da renda dos estratos sociais mais carentes. O acréscimo de ganhos para essa população é injetado imediatamente no consumo, estimulando, em primeiro lugar o comércio e os serviços e, logo em seguida, a indústria e, mais tarde, o setor financeiro.
A repercussão para a economia do aumento de renda para os já abastados e aumento de renda para os mais carentes é muito diferente. Os mais abastados, como o nome diz, já estão abastecidos, o aumento do consumo em relação ao aumento de renda é muito pouco, uma vez que já estão bem providos. Enquanto isso, os pobres precisam de tudo, têm carência de muitas coisas, desde os bens necessários para sua sobrevivência e de seus familiares. Então, quando têm mais dinheiro em mãos, vão desejar, imediatamente, adquirir os vários produtos de que necessitam, gastando imediatamente a renda, e fazendo girar com mais rapidez a roda da economia.
É por isso que o Brasil está crescendo.
Airton dos Santos, Economista – Subseção do Dieese no Sindnapi