Com a aproximação do início do ano escolar, volta à baila a discussão sobre o retorno às aulas presenciais. Dessa vez, com dois novos componentes: a nova variante ômicron do vírus SARS-CoV-2, que causa a Covid-19, e a aprovação pela Anvisa da vacinação para crianças de 5 a 11 anos.
A volta à vida saudável em sociedade não virá com a força bruta, com denúncia de pais ou decretos falsamente liberalizantes. Virá com o esforço de toda a sociedade, que aderiu maciçamente à vacinação, e com a colaboração dos gestores educacionais. Notificar o conselho tutelar, denunciar pais ou responsáveis, colocar familiares contra a parede é o tipo de brutalidade que devemos extirpar do nosso convívio, notadamente no ambiente escolar. Optar pelo conflito, estimular o denuncismo, “cancelar”, tem sido a prática de governantes fracos e seus fanáticos seguidores.
Todos queremos a volta plena das atividades escolares, sobretudo no ensino básico. Ainda que se reconheça todo o empenho dos e das docentes em manter o processo educativo e o vínculo com os estudantes no ambiente virtual, refazendo o planejamento pedagógico e transformando seus lares em estúdios, a interação presencial professor-aluno é fundamental, notadamente no Brasil, com abissais diferenças socioeconômicas, deficiente cobertura de internet e parcos recursos tecnológicos, principalmente do poder público.
Porém, a volta ao ambiente acadêmico deve ocorrer com segurança, o que somente pode ser propiciado pela imunização da totalidade dos atores envolvidos no processo pedagógico, o que inclui toda a comunidade escolar, inclusive as crianças. A ômicron contagia e espalha o vírus com espantosa velocidade, a ponto de a própria OMS compará-la ao sarampo.
A vacina é o elemento fundamental para impedir a disseminação do vírus ou, ao menos, mitigar os seus efeitos e consequências, permitindo que o sistema de saúde possa funcionar de modo adequado, sem stress. Esse cenário, com 80% da população adulta imunizada, permitiu a flexibilização das medidas restritivas em São Paulo. Restou provado que não há como garantir condições sanitárias ideais em recintos fechados, como salas de aula, sem que as pessoas estejam vacinadas. Mas não é com denúncias e ameaças que se conseguirá atingir o objetivo da vacinação universal nas escolas. O macarthismo não tem lugar no ambiente acadêmico.
Haverá de produzir maior efeito se a comunidade escolar – gestores, educadores, alunos – isenta de paixões políticas, à luz da ciência, acolher e promover ações que convençam as crianças e suas famílias temerosas e resistentes, sobre a segurança e eficácia das vacinas em deter o avanço avassalador dessa variante e que o respeito à saúde pública implica na observação de regras de comportamento social que por vezes conflitam com interesses pessoais.
Mas, será de fundamental importância que sejam seguidas as recomendações científicas de que a imunização total somente ocorre após a segunda dose. Não terá sentido o esforço de conscientização, as campanhas para a universalização da proteção vacinal, se a volta ao ambiente escolar ocorrer precipitadamente, no início de fevereiro. Além de um programa intensivo de testagem de todos os atores envolvidos na relação ensino-aprendizagem, faz-se necessário adiar o retorno às aulas presenciais pelo tempo que for preciso para assegurar o combate à disseminação do vírus.
Voltaremos um pouco mais tarde, mas voltaremos com segurança e sem o risco de novos recuos.
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