26.3 C
São Paulo
sábado, 7/09/2024

Nova política de valorização do Salário Mínimo

Data:

Compartilhe:

Salário Mínimo – O Brasil reabre o caminho do desenvolvimento econômico e socioambiental no qual o incremento da produtividade, a crescimento dos salários, a geração de empregos de qualidade, a superação da miséria, da pobreza e da fome são objetivos estratégicos. Nesse novo contexto prospectivo a política de valorização do salário mínimo se recolocará como um dos instrumentos para alavancar esse conjunto de transformações desejadas.
Agora o Brasil se colocará novamente em sintonia com outros países que tomam iniciativas importantes para o estabelecimento de políticas de promoção e valorização do SM.

Por exemplo, instâncias de governança da União Europeia tratam da da implementação de diretrizes e regras para o Salário Mínimo na região.

O Parlamento Europeu aprovou, por ampla maioria[1], diretrizes propostas pela Comissão Parlamentar do Emprego e dos Assuntos Sociais para assegurar aos trabalhadores um SM justo e adequado. Essa deliberação autoriza o Parlamento a iniciar tratativas com o Conselho (representação dos 27 governos nacionais) para dar forma final à legislação que regulará a política de SM.

Entre as diretrizes aprovadas pelo Parlamento destacam-se: o Salário Mínimo deve promover uma política de proteção da base salarial, assegurando um nível de vida decente aos trabalhadores e suas famílias; valorização da negociação coletiva para que fique garantida a proteção para no mínimo 80% dos trabalhadores, com autonomia sindical e liberdade de filiação; promoção de políticas de manutenção e valorização anual do SM para que atinja 60% do salário médio bruto, entre várias outras diretrizes[2].
As fundamentações que justificam essa iniciativa mostram que todos os 27 países da União têm legislação em relação ao SM, sendo 20 com valor definido na lei e, complementarmente, nas negociações coletivas e em nos outros 7 países a regulação é definida em negociação coletiva. O diagnóstico evidencia que a remuneração mínima não consegue cobrir o orçamento familiar e o custo de vida de 7 entre cada 10 trabalhadores que recebem SM na região. Os problemas das desigualdades salariais foram ressaltados na crise sanitária e evidenciaram a necessidade de políticas para promover um Salário Mínimo decente. O intenso e arriscado combate ao vírus revelou que muitos daqueles que estiveram à frente desse trabalho recebem SM (cuidadores, trabalhadores da saúde, nas creches, na limpeza, entre outros).

Cerca de 60% daqueles que recebem SM são mulheres.[3]

O Brasil implementou uma política de valorização do Salário Mínimo a partir de 2004 que foi fruto das negociações entre o Governo Lula e as Centrais Sindicais. Esses acordos foram materializados na Lei 12.328/2011, renovada e em vigor até 2018. O governo Bolsonaro extinguiu a política de valorização do SM, deixando-o inclusive com uma perda para a inflação.
Desde 2002 a política de valorização garantiu um aumento real de mais de 78%[4], já descontada a inflação. Atualmente o valor do Salário Mínimo é de R$ 1.212,00, dos quais R$ 533,80[5] correspondem ao aumento real, o que incrementa anualmente em mais de 390 bilhões a massa de rendimentos da economia.
Será fundamental que a política de valorização do Salário Mínimo, estruturada como parte das políticas de desenvolvimento produtivo que incrementa a produtividade do trabalho e sustenta o crescimento dos salários.
A agenda da política de valorização do SM recoloca questões fundamentais, o combate às desigualdades, o crescimento da base salarial e a sustentação da demanda pelo poder de compra das famílias. Promovê-la por meio do diálogo social e da negociação coletiva é um princípio fundamental, deve-se buscar uma distribuição mais justa do incremento da produtividade, da renda e da riqueza gerada pelo trabalho de todos.
Observada de forma mais ampla, a política de valorização do SM é parte de um novo arcabouço regulatório das relações de trabalho, no qual a valorização da negociação coletiva e do diálogo social, o fortalecimento dos sindicatos, da sua representatividade e ampla base de representação, de mecanismos ágeis de solução de conflito, de instrumentos que promovem a autorregulação e a autonomia da organização de trabalhadores e empresários.

[1] Foram 443 votos a favor, 192 contra e 58 abstenções.

[2] https://www.europarl.europa.eu/doceo/document/A-9-2021-0325_EN.html#title1

[3] https://www.europarl.europa.eu/news/pt/headlines/society/20210628STO07263/a-acao-do-parlamento-europeu-em-prol-do-salario-minimo-adequado

[4] DIEESE, Nota Técnica 265 de dezembro de 2021, https://www.dieese.org.br/notatecnica/2021/notaTec265SalarioMinimo.html

[5] Sem o aumento real de 78,7% o valor do SM seria de R$ 678,00.

Clemente Ganz Lúcio, sociólogo, consultor e assessor das Centrais Sindicais.

Clique aqui e leia mais opiniões

Conteúdo Relacionado

Lula 3 e os sinais da economia – Marcos Verlaine

O economista Paulo Gala — que é professor na FGV-SP e conselheiro da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) —, fez...

Sentido de realidade – Carolina Maria Ruy

Dizem, alguns jornalistas, que as tal das sabatinas são melhores que os debates. Não acho. Em geral os jornalistas que fazem as perguntas não...

Sincomerciários de Jundiaí intensifica luta por aumento real – Milton de Araújo

Com a chegada da data-base para o comércio varejista e atacadista em geral (1º de setembro), o Sindicato dos Comerciários de Jundiaí e Região...

Vote pela democracia e pelo desenvolvimento – Chiquinho Pereira

O Sindicato dos Padeiros de São Paulo, fundado em dezembro de 1930, é uma entidade sindical muito importante para os trabalhadores e trabalhadoras.Trabalhamos na...

Manchete e editorial – João Guilherme Vargas Netto

O Globo de domingo (1º/9) deu capa com manchete denunciando que “O Brasil já tem 153 patrões investigados por coação eleitoral”. E, em matéria...