Ataque irracional dos EUA à soberania brasileira exige coesão das forças políticas e de toda a sociedade em defesa dos interesses do nosso país. É inadmissível a interferência estrangeira em assuntos internos cujo debate cabe exclusivamente a nós.
A carta enviada por Donald Trump ao Presidente Lula – e devolvida pela diplomacia brasileira, tendo em vista seu tom e teor desrespeitoso – chegou como uma bomba com potencial de causar estrago na economia brasileira e nas condições de vida da população. Ainda mais grave, o anúncio da assombrosa sobretaxa de 50% aos produtos brasileiros veio acompanhado de inadmissível tentativa de agressão à soberania nacional. Em resumo, na missiva, o mandatário estadunidense exigia que os poderes constituídos da República do Brasil se curvassem à sua vontade.
Quando menciona a balança comercial, o que deveria estar no centro dessa conversa, falseia a realidade, afirmando que as relações com o Brasil são desfavoráveis aos EUA. O fato é que na última década, o país norte-americano registrou repetidos superávits, que chegaram, dois anos atrás, a US$ 14 bilhões, conforme informou ao Jornal do Engenheiro Antonio Carlos Costa, superintendente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Na mesma entrevista, o especialista em comércio exterior apontou a gravidade das medidas anunciadas por Trump em abril último. Essas jogaram por terra o pacto feito no pós-guerra para regular o comércio internacional, ao menos em tese, de maneira minimamente justa. Ao definir suas próprias regras e tratar países de forma diferenciada, os Estados Unidos abandonam os compromissos globais e a racionalidade econômica.
No ataque desferido agora contra o Brasil, isso se torna ainda mais escandaloso. Nosso país vive há anos polarização política e ideológica, lamentavelmente não superada. Ainda que fosse desejável que o cenário fosse outro, cabe exclusivamente aos cidadãos brasileiros resolver entre si as disputas existentes. Forças estrangeiras não têm voz nas questões internas, muito menos poder de definir o nosso destino.
Diante da situação colocada, cabe ao conjunto das forças políticas e à sociedade agir de forma coesa para defender os interesses brasileiros. À luz das regras diplomáticas e do comércio internacional, atuar para preservar o setor produtivo e os empregos, buscando soluções para mitigar os efeitos nefastos do protecionismo estadunidense “megalomaníaco e maligno”, como pontuou o Nobel de Economia, Paul Krugman.
Isso deve ser feito com o sangue frio que situações desse tipo exigem, apesar na indignação que provocam, mas com altivez e sem abrir mão da soberania nacional. Um dia teremos a nação próspera e justa que os brasileiros almejam. Mesmo que alcançar esse objetivo esteja distante, percorreremos esse caminho de cabeça erguida, não como vassalos.
Murilo Pinheiro. Presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado de São Paulo e da Federação nacional da categoria (FNE).