27.6 C
São Paulo
sábado, 7/09/2024

Política fiscal suicida e o casuísmo eleitoral

Data:

Compartilhe:

Revogar o teto de gastos imposto pela Emenda 95 é um imperativo para que o Estado consiga impulsionar o crescimento econômico e atender às necessidades da população, urgências que vão muito além de eventuais paliativos previstos para 2022.

Desde quinta-feira (21/10), conforme anunciam os veículos de comunicação e os analistas financeiros, existe um “estresse no mercado”, que se traduz em aumento do dólar, queda na Bolsa de Valores e previsões ainda mais pessimistas para a economia brasileira. O motivo para a turbulência é a aprovação por comissão especial da Câmara dos Deputados de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que permite ao governo um gasto em 2022 que ultrapassa o chamado teto de gastos em R$ 83 bilhões.

Defensor ardoroso do mecanismo implantado por Michel Temer em 2016, o ministro da Economia, Paulo Guedes, ao que consta, rendeu-se à pressão para assegurar recursos para viabilizar o “Auxílio Brasil”. A previsão é que o benefício, com valor anunciado de R$ 400,00, atenda 17 milhões de famílias, mas apenas até o final do ano que vem, ou seja, contemplando o período eleitoral.

Embora a medida, que ainda precisa de aprovação no Congresso, tenha causado estremecimentos no mundo das finanças – aquele Olimpo longínquo onde a fome, o desemprego e o subdesenvolvimento parecem não causar qualquer desconforto –, o fato é que é preciso muito mais. A política fiscal suicida adotada no País precisa ser abandonada; não basta um “furo” ocasional para que o País consiga fazer frente às gigantescas dificuldades do momento.

É, portanto, imperativo revogar a Emenda Constitucional nº 95. Batizada de Novo Regime Fiscal, esta determinou o congelamento das despesas públicas ao limite da inflação. Ou seja, o Estado está proibido, ao longo de duas décadas, de desembolsar mais que o ano anterior em valores reais. Trata-se, obviamente, de tarefa impraticável, pois não contempla sequer o crescimento demográfico.

É imprescindível que essa discussão seja feita com honestidade e clareza e, principalmente, tendo como norte os reais interesses da população brasileira, e não de uma minoria privilegiada. É tempo de pensar no bem-estar da maioria, o que inclui o conjunto dos trabalhadores, a classe média e o sistema produtivo. O Estado deve ser eficiente, gastar bem, com responsabilidade e transparência, mas é preciso que cumpra seu papel de indutor do desenvolvimento e provedor de serviços essenciais.

Em consonância com essa aspiração de construção de uma nação próspera, justa e soberana, os engenheiros brasileiros, por meio do projeto “Cresce Brasil + Engenharia + Desenvolvimento”, propõem um caminho que garanta geração e distribuição de renda e avanço científico e tecnológico. São sugestões factíveis para que o País realize seu potencial, o que não cabe nos dogmas ultraliberais financistas.

Servidor público – Ponto fundamental dessa discussão sobre o futuro do Brasil diz respeito à valorização do serviço público, hoje lamentavelmente sob grave ameaça, especialmente pela Proposta de Emenda à Constituição (PEC) nº 32, que promove o desmanche do atendimento à população a pretexto de implantar uma reforma administrativa.

Diferentemente do que propalam seus defensores, as mudanças não trarão eficiência ou economia, tampouco acabam com privilégios. Nesta semana em que se comemora o Dia do Funcionário Público, celebrado na quinta-feira (28/10), manifestamos nossa solidariedade e reafirmamos nosso compromisso de luta ao lado dos milhões que atuam incansável e cotidianamente para prover a sociedade com o essencial.

Clique aqui e leia mais artigos de Murilo Pinheiro.

Maiswww.seesp.org.br

Murilo Pinheiro
Murilo Pinheiro
Murilo Pinheiro é presidente do Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo (Seesp) e da Federação Nacional da categoria (FNE)

Conteúdo Relacionado

Lula 3 e os sinais da economia – Marcos Verlaine

O economista Paulo Gala — que é professor na FGV-SP e conselheiro da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) —, fez...

Sentido de realidade – Carolina Maria Ruy

Dizem, alguns jornalistas, que as tal das sabatinas são melhores que os debates. Não acho. Em geral os jornalistas que fazem as perguntas não...

Sincomerciários de Jundiaí intensifica luta por aumento real – Milton de Araújo

Com a chegada da data-base para o comércio varejista e atacadista em geral (1º de setembro), o Sindicato dos Comerciários de Jundiaí e Região...

Vote pela democracia e pelo desenvolvimento – Chiquinho Pereira

O Sindicato dos Padeiros de São Paulo, fundado em dezembro de 1930, é uma entidade sindical muito importante para os trabalhadores e trabalhadoras.Trabalhamos na...

Manchete e editorial – João Guilherme Vargas Netto

O Globo de domingo (1º/9) deu capa com manchete denunciando que “O Brasil já tem 153 patrões investigados por coação eleitoral”. E, em matéria...