Lula, 80, estadista

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Lula, 80, estadista

Na manhã desta sexta (24) assisti ao pronunciamento do presidente Lula na Indonésia – o maior país muçulmano do mundo, cerca 280 milhões de habitantes. Falava ali não mais o líder de massas e o sindicalista arrojado que vi num 1º de Maio em São Bernardo, em 1978.

A fala era de um estadista, com sua visão de 360 graus, defendendo o livre comércio entre países, a ampliação dos negócios entre as Nações e também o multilateralismo.

Lula fazia 80 anos. Era um velho, mas sem as marcas da decadência que os anos impõem. Ele falou com firmeza e havia sinceridade em suas propostas.

Da minha geração, sou dos poucos que não se ligaram ao PT, com quem tenho uma relação de respeito, sem deixar de lado as diferenças de um renitente brizolista, trabalhista, nacionalista.

A bem da verdade, acho que compreendi Lula em 1979, na assembleia da greve dos jornalistas, na Casa de Portugal. Estrela da esquerda emergente e líder de todos os que estávamos lá. Lula foi levar apoio às nossas reivindicações. Mas deixou claro: “Eu sei fazer greve operária. Greve de jornalista quem deve fazer são os jornalistas”.

Ali, eu vi a sua sagacidade (“A astúcia é a coragem do pobre”, ensina Ariano Suassuna). Lula apoiava os jornalistas que queriam a greve, mas não se encrencava com os barões da mídia. Como diria outro pernambucano: Não espantar a caça nem deixar a onça com fome (Tenorinho).

Até anos atrás, havia a ilusão esquerdista de que um grande líder popular ou classista viraria, automaticamente, uma grande liderança política. Ledo engano. E Francisco Julião talvez seja o melhor exemplo disso.

Portanto, nessa equação complicada entre a trajetória de uma liderança popular e a de um líder político, Lula é exceção à regra. Ele foi além, pois hoje é a maior liderança popular do mundo político. A democracia mundial depende muito das suas posições.

Forjado na luta, com vitórias e derrotas; com erros toscos e acertos espetaculares; Lula é mais que um Presidente. Ele é a moderna contribuição brasileira – de paz, inclusão social e tolerância – a um mundo confuso, tão confuso que o fascismo voltou a ser um poder internacional.

Aos 80 anos, o retirante pernambucano, dono de preciosa luz própria, é exemplo de democrata e estadista. Sua história ensina que é preciso lutar com perseverança, mas no lado certo da história.

João Franzin – jornalista, coordenador da Agência Sindical.