O sucesso do governo do presidente Lula em 2025 está diretamente condicionado ao desempenho em 2024, sendo que este ano funciona como base fundamental para pavimentar os avanços e as realizações do próximo ciclo. Apesar de as dificuldades derivadas do limite de despesas e das metas fiscais desafiadoras, as perspectivas econômicas são favoráveis, com projeções de crescimento do PIB, aumento do emprego, controle da inflação e equilíbrio das contas públicas.
Contudo, fatores políticos podem criar desafios significativos, e o modo como o governo lida com esses elementos em 2024 será determinante para o sucesso futuro.
Um dos principais desafios será o impacto das eleições municipais de 2024. O resultado dessa eleição pode redefinir o cenário político local, fortalecendo ou enfraquecendo a base de apoio do governo. O PT e partidos aliados como o PSB e PSol possuem boas chances de ampliar a representação, elegendo mais prefeitos e vereadores.
Essa base de apoio local pode ser crucial para a manutenção da governabilidade em nível nacional, vez que o sucesso nas eleições municipais tende a criar efeito dominó para as eleições gerais de 2026, especialmente no que diz respeito à eleição de deputados federais e à composição das bancadas no Congresso.
Porém, além do crescimento numérico, é essencial que a base governista compreenda que nem toda derrota local deve ser vista como desvantagem irreversível ou derrota definitiva. É preciso observar os resultados sob ótica mais estratégica, comparando o quadro atual com o pós-eleitoral e avaliando a taxa de sucesso de cada legenda em relação ao número de candidatos apresentados.
Esse exercício de análise permitirá visão mais ampla e precisa sobre os ganhos reais dessas eleições. Ademais, a unidade da coalizão governista deverá ser mantida, com esforço para minimizar os rompimentos e divergências que possam surgir em razão das disputas municipais.
Outro ponto de tensão será a gestão das emendas parlamentares, particularmente as emendas de relator, que se tornaram uma das principais fontes de barganha política no Congresso. O governo enfrentará desafios na tentativa de retomar o controle sobre o Orçamento federal, especialmente depois que grande parte desse foi apropriado por meio de emendas durante os governos Temer e Bolsonaro.
A recente decisão do ministro Flávio Dino, do STF, de suspender temporariamente a execução das “emendas PIX” e coletivas até que sejam estabelecidos critérios mais transparentes e eficientes para sua alocação, criou janela de oportunidade para o governo. No entanto, a resistência de parte do Congresso em ceder poder sobre esses recursos representa batalha política que deverá ser conduzida com muita habilidade e prudência.
A relação entre o Executivo e o Congresso será testada também nas eleições para as presidências da Câmara e do Senado. A eleição de presidentes aliados ou independentes será crucial para determinar a capacidade de o governo avançar com reformas estruturantes, como a Reforma Tributária, e outras políticas públicas essenciais.
Condução cuidadosa desse processo pode consolidar base governista coesa, capaz de garantir o avanço das pautas prioritárias. No entanto, qualquer desorganização na coalizão pode gerar instabilidade política, abrir espaço para a oposição e dificultar a governabilidade.
A postura do presidente Lula de manter-se relativamente distante da disputa pelos cargos de presidente das casas legislativas, sem interferir diretamente, parece ser estratégia acertada, desde que o foco permaneça em evitar a eleição de figuras da oposição radical que possam dificultar os avanços necessários para o País.
Do ponto de vista econômico, a política de fomento ao ambiente de negócios desempenha papel crucial no desempenho do governo. A agenda regulatória e os incentivos ao investimento produtivo, conduzidos pelos ministérios do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços e da Fazenda, já demonstram resultados expressivos com o crescimento do PIB em 2024 acima do previsto. O papel do Mdic, sob a liderança do presidente Lula e a execução do vice-presidente, Geraldo Alkmin (PSB), tem sido central na reestruturação da indústria, com foco em inovação e diversificação das cadeias produtivas.
O Ministério da Fazenda, por sua vez, tem sido o motor por trás da formulação e negociação da Reforma Tributária, um dos pilares fundamentais para garantir ambiente econômico sustentável e equilíbrio fiscal a longo prazo.
O ano de 2025 representa, portanto, oportunidade para consolidar essas conquistas. Contudo, o sucesso dependerá da capacidade de o governo superar os desafios políticos que surgirem em 2024, mantendo coesão interna e estratégia bem articulada para enfrentar as resistências no Congresso e para lidar com as complexidades das eleições municipais.
A combinação de crescimento econômico, equilíbrio fiscal, inclusão social e respeito ao meio ambiente será o fio condutor desse processo, mas sem base política sólida, esses avanços correm o risco de serem comprometidos.
Assim, o ano de 2024 será decisivo para garantir a continuidade do projeto de desenvolvimento sustentável e inclusivo que o governo Lula propõe para o Brasil.
A condução estratégica das questões políticas, a manutenção da unidade da coalizão governista e o fortalecimento da base de apoio nas eleições municipais serão fatores-chave para que 2025 possa ser um ano de crescimento e avanço em diversas frentes.
Antônio Augusto de Queiroz, Jornalista, analista e consultor político, mestre em Políticas Públicas e Governo pela FGV. É sócio-diretor das empresas “Consillium Soluções Institucionais e Governamentais” e “Diálogo Institucional Assessoria e Análise de Políticas Públicas”, foi diretor de Documentação do Diap. É membro do Cdess (Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável) da Presidência da República – Conselhão. Publicado originalmente na revista eletrônica Teoria&Debate.