Piquenique à beira do precipício

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O Brasil já vive uma segunda onda de Covid-19. Ninguém sabe seu tamanho, mas parece assustadora.

O governo federal não tem plano nenhum para enfrentá-la —ao menos por enquanto.

Jair Bolsonaro disse, recentemente, que a segunda onda é “conversinha”. A primeira, que começou em março e já matou mais de 170 mil brasileiros, era, conforme definiu à época, uma “gripezinha”.

A segunda onda já chegou à quase toda a Europa, voltou também aos EUA, que nem controlou a primeira ainda, e atingiu a Índia. Alguns países retomaram o “lockdown”.

Atividades escolares e profissionais também foram suspensas. Aqui no Brasil o ritmo do contágio passou, nos últimos dias, de 0,68 para 1,1, segundo um instituto médico londrino.

Isso significa que, para um grupo de 100 pessoas contaminadas, que antes contaminavam 68 indivíduos, agora contaminam 110 pessoas. As internações por Covid-19 em São Paulo deram um salto de 22% em 15 dias, e novos picos de contaminação acontecem em vários locais do país.

Para complicar a situação, a maioria dos estados está abrindo a guarda dos rígidos esquemas de controle da pandemia. Não há vigilância maior, por exemplo, sobre o transporte público, que anda lotado, e grupos enormes se encontram nas praias. Sem contar que se aproximam as festas de fim de ano, sempre pontuadas por aglomerações. Não bastasse essa grave situação, temos outro problema muito sério: o Brasil fechou 2 de cada 3 leitos de UTI criados desde o começo da crise sanitária. Como desgraça pouca é bobagem, há uma politização em cima da vacina, tendo com pano de fundo as eleições presidenciais de 2022. O perdedor, como sempre, será a população, especialmente as pessoas mais pobres.

Temos que ficar atentos com a Covid-19, mas não podemos nos esquecer da recessão econômica e do desemprego batendo recordes, que, segundo o IBGE, atinge 13,8 milhões brasileiros. Temos ainda 68 milhões de trabalhadores informais e mais de 5 milhões de desalentados (que deixaram de procurar empregos). Cerca de 10 milhões de brasileiros passam fome, também de acordo com pesquisa do IBGE.

A UGT (União Geral dos Trabalhadores) e as demais cinco centrais sindicais, junto com os partidos da oposição, forçaram o governo a providenciar um auxílio emergencial de R$ 600 para informais e desempregados. Dinheiro este que manteve a economia e especialmente o pequeno comércio em funcionamento.

Agora, o governo resolveu baixar o valor para R$ 300, grana que não compra uma cesta básica em lugar nenhum do país. Está chegando o fim do ano. Não há nenhum projeto econômico sendo lançado, o que faz de janeiro em diante, se nada mudar, um assustador pesadelo.

O que vai acontecer? Já temos a pandemia do coronavírus, que está matando gente desde março. Agora, vem a segunda onda. E, pelo jeito, aproxima-se a pandemia do desemprego —e, com ela, a da fome.

Estamos ou não fazendo um piquenique à beira do precipício?

Artigo publicado na Folha de S.Paulo dia 26/11.

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