Privatizar a Sabesp, um mau negócio – Murilo Pinheiro

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Mercado celebra hoje na Bolsa de Valores ganhos bilionários à custa do patrimônio estadual e da saúde pública.

 

Com a liquidação da venda de ações da Companhia de Saneamento Básico de São Paulo (Sabesp) nesta segunda-feira (22/7), o governo estadual anunciou para hoje (23/7) evento em comemoração à privatização da empresa na sede da Bolsa de Valores, a B3.

O episódio é certamente motivo de júbilo, mas infelizmente não para o povo paulista ou sequer para o tesouro público estadual. Quem tem muito a comemorar nessa transação é a dita empresa de referência – apesar da experiência nula em saneamento -, a Equatorial, que levou 15% das ações, e os investidores que ficaram com mais 17% na última quinta-feira (18/7).

Vendidas a R$ 67,00, preço inferior ao que vinha sendo negociado já anteriormente na Bolsa, após a negociação, as ações da Sabesp saltaram para R$ 82,00. Nas contas do especialista no tema Eduardo Moreira, tratou-se de uma distribuição de dinheiro público da ordem de R$ 1,5 bilhão em benefício da Equatorial e de mais R$ 2 bilhões para os demais compradores.

Além do absurdo evidente de se entregar patrimônio público a preço de banana para vê-lo valorizar horas depois sob a posse de agentes privados, o processo ainda foi marcado por privilégios que chamaram a atenção até no mercado financeiro, conforme noticiado. O banco BTG foi o grande premiado com a operação que atraiu enorme interesse, da ordem de R$ 190 bilhões, algo em torno de 30 vezes o que estava sendo ofertado.

Segundo o Brazil Journal, o negócio era tão “suculento” que os sócios de algumas gestoras convenceram suas áreas de compliance a lhes dar aval para investirem eles próprios, o que obviamente, como regra, é proibido.

Com isso, o governo de São Paulo dá mais um passo rumo ao desastre no saneamento. A população perde uma empresa pública de excelência, com ótimos resultados financeiros e operacionais, que estava prestes a universalizar os serviços nos municípios em que atua, inclusive na Capital. Em seu lugar, assume uma companhia sem tradição no setor ou compromisso com o bem-estar dos cidadãos.

O que se verá, como mostram as experiências ao redor do mundo e aqui ao lado, no Rio de Janeiro, é elevação de tarifas e queda na qualidade dos serviços, fim de investimentos e busca desenfreada pelo lucro.

Como a operação de entrega das ações da Sabesp foi só mais uma etapa da extensa série de irregularidades que marcam o seu processo de privatização, resta a esperança de que os muitos processos que correm na Justiça prosperem e haja a reversão desse desatino.

Eng. Murilo Pinheiro, Presidente da Federação Nacional dos Engenheiros.