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terça-feira, 15/10/2024

Quem é o brasileiro que vai às urnas

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A maioria dos brasileiros acha que o governo tem que trabalhar para reduzir as diferenças entre ricos e pobres e só 18% concordam que o crescimento econômico seja feito à custa do meio ambiente. Mesmo entre os que acham a administração Bolsonaro ótima ou boa, só 20% concordam totalmente com a ideia de sacrificar o meio ambiente pelo crescimento. Depois de tanta discussão sobre o voto dos evangélicos, é curioso descobrir que, entre eles, apenas 32% acham que a religião do candidato é relevante na hora de definir o voto, menos do que os 40% que discordam totalmente da ideia de que a religião do candidato é importante. Na população em geral, apenas 23% avaliam que a religião do candidato importa. As pesquisas sobre as opiniões dos brasileiros mostram que poucas bandeiras do bolsonarismo são abraçadas pela maior parte do eleitorado.

Em geral, o brasileiro tem uma visão laica da política, quer preservar o meio ambiente e defende que o governo reduza as desigualdades. Isso é que se pode ver na pesquisa feita pelo Ipec, entre 9 e 11 de setembro. O que teve mais destaque, claro, foi a intenção de votos para a Presidência, mas é curioso viajar nas respostas às perguntas sobre os valores e as opiniões dos entrevistados. A conclusão que se tira, ao olhar o conjunto dos dados, é que, em geral, o brasileiro tem posições de centro, com preocupações sociais e ambientais, e defende algumas ideias mais conservadoras, mas nada que justifique a vitória, há quatro anos, de um extremista como Jair Bolsonaro.

O ideário de Bolsonaro tem maioria em apenas algumas questões. Por exemplo, 66% são a favor da redução da maioridade penal e 70% são contra o aborto. Mas, sobre pena de morte, 49% são contra, e 42%, a favor. Na parcela do eleitorado que avalia bem o atual governo, o apoio à pena de morte é quase a mesma coisa que no resto do país, 50%. O país se divide sobre casamento homoafetivo: 43% a favor, 40% contra, o resto é indiferente.

O brasileiro afinal é conservador ou progressista? Nem uma coisa nem outra, pelo que se pode entender da pesquisa. Os entrevistados foram apresentados a uma escala de zero a 10. O enunciado da questão era: “Pensando em valores morais e atitudes diante de assuntos como a igualdade entre homens e mulheres, orientação sexual ou os papéis de cada membro da família, as pessoas podem ser modernas/progressistas ou tradicionais/conservadoras.” E a pergunta era para saber como a pessoa se qualificava. O totalmente conservador ficou com 27% e o totalmente progressista ficou com 23%. O resto se distribui entre os diversos pontos da escala, mas o número 5, que seria o equilíbrio entre conservador e progressista ficou com 17% dos entrevistados.

Na área de costumes, portanto, o país está bem equilibrado, apesar de chamar a atenção a parcela de 27% dos que se definem como totalmente conservadores, fatia que chega a 37% entre os evangélicos. Isso talvez explique a resiliência de Bolsonaro com um terço das intenções de votos, apesar do governo desastroso que fez. Na vida pessoal, o presidente não se enquadra no figurino “totalmente conservador”, afinal, está no seu terceiro casamento, mas Bolsonaro aproveitou-se dessas bandeiras para formar o núcleo duro dos seus eleitores.

Na economia, Bolsonaro disse encarnar o liberalismo. Na prática, seu governo não foi liberal e em alguns momentos foi bem intervencionista. Na pesquisa, foi apresentada a seguinte questão. “O Estado deveria ter controle apenas das áreas de segurança pública, saúde e educação. Tudo o mais deveria ser privatizado.” Só 27% concordam totalmente com isso. Até entre os que avaliam que o governo é ótimo ou bom, apenas 32% concordam com a privatização.

Sobre as eleições, 73% dizem fazer questão de votar, e esse número chega a 78% entre os de 60 anos ou mais. A maioria discorda da frase “vou votar porque é obrigatório”. Mas esse tema traz um alerta: 50% dizem que a democracia é preferível a qualquer outra forma de governo, mas 24% acham que dá na mesma, 12% admitem, em algumas circunstâncias, o regime autoritário, e 15% não sabem ou não responderam. Depois de quatro anos de um governo que faz a louvação da ditadura, será preciso fortalecer os valores democráticos do país.

Com Alvaro Gribel (de São Paulo)

Míriam Leitão, colunista do jornal O Globo.

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