Dizem, alguns jornalistas, que as tais sabatinas são melhores que os debates. Não acho. Em geral os jornalistas que fazem as perguntas não enfrentam o tema principal, enquanto nos debates os candidatos se confrontam uns com os outros criando uma situação mais realista, menos dissimulada.
Disseram também que causou espanto o debate acalorado da TV Gazeta no último domingo, 1º de setembro. Que nunca antes na TV blábláblá. Que nada! Quem nunca viu o Brizola debatendo? Aquele sim era lacrador, no bom sentido. Aquele sim produzia bons recortes. Tão bons que usamos até hoje, mais de trinta anos depois. “Filhote da ditadura” na cara do Maluf, lembram? Quem não lembra do Quércia no Roda Viva?
O problema é que os debates e as entrevistas ficaram muito chatos e engessados. Assim como as campanhas. Não pode mais fazer boca-de-urna! Quando eu era criança eu adorava fazer boca-de-urna. Dia de eleição era uma festa. Hoje, não pode. Uma pena. Aí, quando vemos um debate sair do protocolo, nossa!
Assisti o Roda Viva do Pablo Marçal, a entrevista dele para o UOL. Com isso e lendo alguns comentários na minha bolha, penso que os jornalistas, a elite intelectualizada e a esquerda não estão sabendo lidar com esse problema. Na minha opinião isso passa por um pseudo vanguardismo esnobe. Quando Silvio Santos morreu ficou nítido. As torcidas de narizes, os saltinhos altos e as “explicações” sociológicas e teóricas para o fenômeno Silvio. Puro suco de pregação para convertidos.
As entrevistas que vi do candidato coach foram muito fracas. Perguntavam sobre a dinâmica e a monetização das redes sociais, se ele apoia impeachment do Alexandre de Moraes, se o Bolsonaro isso, se o Tarcísio aquilo. Nada que acrescente, nada que mude voto de ninguém.
No nosso campo progressista/de esquerda não muda muito. Não adianta culpar o neoliberalismo. Eu sei que isso é um problema que leva a consequências do tipo Marçal, Bolsonaro e Tarcísio. Mas a questão do neoliberalismo aqui é de fundo. É o quadro maior. E hoje carecemos de olhar o detalhe, o quadro menor. Se para tudo damos a mesma resposta: o neoliberalismo, não saímos do lugar. Não entendemos a situação.
Uma vez li em um artigo da BBC que o líder russo Vladimir Lenin, depois de morto, teve seu cérebro fatiado por pesquisadores que queriam, desta forma, entender a natureza de sua genialidade. Pois bem, o que queria chamar atenção aqui é que no texto Lenin é descrito como uma pessoa com forte “sentido de realidade”, entre outras qualidades. Lembrei desse texto porque acho que as vezes carecemos de “sentido de realidade”.
O povo – e aqui não uso o sentido social da palavra, mas o sentido geral -, o povo eleitor, é muito pragmático em suas escolhas. Bilhete único e corredor de ônibus são linguagens que o povo entende e aprova. Tarifa proporcional de ônibus que cobra mais de quem mora mais longe, também é algo de fácil compreensão. E o povo desaprova.
Por fim, se tivesse a oportunidade, eu perguntaria para o candidato Pablo Marçal: “Você adotou a Carteira de trabalho como um símbolo na sua campanha. Considerando que a Carteira foi criada pelo presidente Getúlio Vargas para garantir o cumprimento dos direitos previstos na CLT, no mesmo processo que criou os Sindicatos, que também são direitos trabalhistas, qual sua posição sobre o movimento sindical? Você apoia a reforma trabalhista, que foi o maior desmonte desses direitos previstos pela Carteira, ou a posição do Bolsonaro, com sua carteira verde-amarela, que também retira direitos dos trabalhadores?”.
Carolina Maria Ruy, Pesquisadora, jornalista e coordenadora do Centro de Memória Sindical.