Um dos primeiros oncologistas brasileiros e inovador na comunicação da saúde com a mídia, Drauzio Varella, de 79 anos, lança esta semana o livro “O exercício da incerteza — memórias”. Além de lembranças pessoas, a obra reúne reflexões sobre o País que ele só compreendeu, diz, “ao decidir trabalhar de forma voluntária no falecido presídio do Carandiru”.
Em entrevista ao jornal O Globo, o médico falou sobre o novo livro, mas também destacou o que o SUS significa para a medicina brasileira. Veja os principais pontos do que Drauzio falou:
– Estava chegando aos 80 anos e lembrei que havia começado a escrever um livro, “Por um fio”, aos 36. Eu tratava uma paciente austríaca, que estava internada, com um tumor avançado. Ela passou por um psiquiatra e falou para mim: “Esse menino é muito agradável, mas, aos 30, incapaz de entender o que significam oito décadas de vida e a proximidade do fim”. Entendi então que era pretensioso escrever aquele livro. Coloquei na gaveta e decidi que voltaria a ele quando tivesse, eu também, 80 anos.
– Esse livro acabou sendo publicado em 2004, quando tinha 60 anos, porque não sabia se chegaria aos 80. Agora, me lembrei da história e tratei de escrever.
– Nada mudou nas penitenciárias nos últimos 30 anos. Se a cadeia melhorou, o fez por conta do crime organizado, que impôs disciplina e códigos de comportamento que tornaram o ambiente mais tranquilo. A sociedade não fez nada.
– Corro três vezes por semana. E há prazer na corrida, que é quando ela acaba (risos). Comecei a correr com disciplina há trinta anos. E sabe quantas vezes acordei alegre, disposto, feliz para o exercício? Jamais! Mas exercitar me ajudou a chegar bem aos 79.
– A maior conquista da saúde brasileira foi a criação do SUS. Foi a maior revolução da história da medicina brasileira, e com projeção global. Na época, acreditava que demoraríamos muito mais para implantar algo deste monte. Pois o SUS fez muito em pouquíssimo tempo.
– Durante a pandemia, me emocionei muito com as celebrações ao SUS. Os brasileiros não tinham noção do que era o SUS, da complexidade do atendimento oferecido, de ser nosso maior programa de transferência de renda. E isso precisa estar na cabeça das pessoas em outubro: eleger um presidente compromissado com o SUS e com um projeto de saúde e de educação públicas.
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