O processo histórico em curso continua engendrando os meandros da longa trajetória de luta da classe trabalhadora, que vem desde o século XIX, na esteira da industrialização e da urbanização. Foi a partir das lutas, e para promovê-las, que a classe trabalhadora criou os sindicatos e suas estruturas verticais (Federações, Confederações, Centrais).
Também foi na luta por direitos e pela participação na vida coletiva, pública e política, na busca por direitos iguais, pela liberdade, pelo direito de representação e de exercer o governo do Estado, que a classe trabalhadora criou partidos políticos nos quais lutou para instaurar as democracias modernas.
Nessa longa trajetória de quase dois séculos de lutas, promover e preservar a democracia tem sido uma prioridade para a classe trabalhadora. A luta pelo voto livre, universal e secreto também está na origem das lutas sindicais. Nos séculos XVIII e XIX, partidos e o voto já existiam. Porém, “todos podiam votar” desde que fossem homens, brancos, com uma renda alta e possuíssem muito patrimônio. Partidos, somente aqueles que representavam a classe dominante.
A democracia não é uma dádiva e muito menos está assegurada de forma perene. Sabemos disso pelo que vivemos recentemente em nosso país. Os trabalhadores foram decisivos para a conformação da democracia moderna e foram protagonistas ao criarem os partidos que representavam seus interesses, como os partidos socialdemocratas, trabalhistas, socialistas e comunistas.
O desafio para a esquerda ou para o campo democrático-popular tem sido promover a democracia e as transformações estruturais em uma sociedade desigual do ponto de vista econômico, social e político. As inúmeras respostas, suas contradições e visões marcam disputas intensas e rupturas históricas no seio da classe trabalhadora.
Lutar por melhores salários, por condições dignas de trabalho, pela redução da jornada de trabalho, pela proibição do trabalho infantil e do trabalho escravizado, pela proteção em termos de saúde e segurança, contra todas as formas de assédio, pela proteção previdenciária, pelo transporte coletivo, pelo direito à moradia e ao saneamento, entre outros, são pautas dos sindicatos, dos movimentos populares e dos partidos que continuam a mobilizar as várias esferas da luta social e política em busca de uma sociedade igualitária e democrática.
Clemente Ganz Lucio, Sociólogo, coordenador do Fórum das Centrais Sindicais, membro do CDESS – Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social Sustentável da Presidência da República, membro do Conselho Deliberativo da Oxfam Brasil, consultor e ex-diretor técnico do Dieese (2004/2020).