DEUS E A OPOSIÇÃO

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João Franzin é jornalista e coordenador da Agência Sindical. Email: franzin@agenciasindical.com.br

Deus, na sua infinita bondade, olhou para o Brasil e se condoeu com a penúria da oposição. Aí, chamou um dos arcanjos prediletos, deu-lhe uma bandeja e mandou entregar à oposição desorientada.

Na bandeja, despojada, como são as coisas do Senhor, ele pôs apenas três presentes: 1) A união nacional contra o coronavírus, incluindo a frente de governadores; 2) O Auxílio Emergencial aos mais pobres de R$ 600,00, até dezembro; 3) Crédito rápido e farto para as micro e pequenas empresas, sufocadas pelas crises.

Mas surgiu um problema. Embora muitos da oposição fossem simpáticos a Deus, havia reservas em relação ao emissário, porque, anos antes, o arcanjo tinha se manifestado a favor da Lava-Jato e, desconfiava-se, até havia falado com alguém ser a favor do impeachment de Dilma.

Sendo assim, a oposição serviu café frio ao arcanjo e encostou a bandeja num canto. Já Bolsonaro, apoiado nos relatórios em tempo real de seu serviço particular de informações, acompanhou a cena e passou a adotar providências.

A primeira delas foi tomar para si a autoria do Auxílio de R$ 600,00. Segunda, sem combater o vírus, desmontar a frágil aliança entre os governadores. Terceira, anunciar crédito às micro, mesmo sem fazer o dinheiro chegar ao dono do bazar.

Foi além o capitão. Parou de brigar com o Supremo, deu cargos para o Centrão (no Brasil, chamam assim o que na prática é direitão), visitou Estados e estendeu o Auxílio por mais dois meses. Também apoiado em pesquisas qualitativas, o presidente entendeu que era hora de inaugurar a fase “Jairzinho paz e amor”.

Mas não ficou só nisso. No campo político, passou a trabalhar com as duas mãos. Com uma, desorganizava a oposição, punha a polícia no encalço do Witzel, esparramava a versão de que as mortes pelo vírus eram culpa dos governadores. Com a outra, organizava as coisas. Por exemplo: inaugurava obra pronta no Nordeste, abraçava em praça pública o Emergencial de R$ 600,00, dava cargos ao Centrão, sorria para o Supremo, acenava para a China e, num gesto fraterno, até mandava ajuda ao Líbano arruinado pela explosão.

O Instituto Data Folha percebeu o cenário em mudança e mobilizou seus pesquisadores. Resultado da pesquisa: Bolsonaro subiu no item aprovação e caiu no quesito rejeição. E mais: apenas 11% dos brasileiros (e só o PT tem simpatia de uns 18%) atribuem responsabilidade do Presidente pelas 100 mil mortes com a Covid-19.

Mas Deus, em sua infinita generosidade, guardou um quarto presente para a oposição, que é abraçar a bandeira – com os estudantes, os professores, os pais de alunos, o sindicalismo, os formadores de opinião, o clero progressista e parte da grande imprensa – contra a reabertura das escolas, a fim de evitar a contaminação das crianças, o avanço coronavírus e mais mortes ainda.

Mas, do alto de sua infinda sabedoria, recomendou o Senhor a seu novo emissário: – Diga pra esses caras que é pegar ou largar.