Na sexta, dia 20, a manchete principal do jornal Valor Econômico era explícita: “Condições financeiras pioram e afetam ritmo da economia”.
Dias antes da manchete do jornal, dois totens da economia brasileira haviam se pronunciado. O ex-ministro Delfim Netto vinha a público para, do alto de sua experiência enquanto homem de Estado, dizer: “Para o mercado, melhor Lula do que Bolsonaro”.
Na quinta, o ex-presidente do Banco Central, professor Affonso Celso Pastore (perfil conservador), falava na primeira página do Estadão que as ilusões de crescimento do PIB haviam evaporado.
Claro. Tem aí a recessão prolongada. Tem aí a pandemia da Covid-19. Mas temos aí, principalmente, Jair Bolsonaro, o elemento desestabilizador. Ainda na sexta, o presidente cumpriu sua promessa, reforçou seu radicalismo e foi ao Senado pedir o impeachment de um ministro do Supremo, Alexandre de Moraes.
Entusiastas de Guedes e Bolsonaro chegavam a apontar crescimento de 4% no PIB do próximo ano. Já o mercado, com o pé no chão, adverte que não será assim. Ao Valor Econômico da sexta, instituições como o Ibre/FGV indicavam crescimento de 1,6%. O Banco Safra baixava de 1,8% para 1,4% a sua projeção.
ELLE – Ao Estadão, Pastore dizia que o populismo eleitoral de Bolsonaro já se vê na piora dos preços e indicadores, e que a euforia da “Faria Lima” (principal centro financeiro de SP) e dos empresários acabou. Sua fala: “O despertador tocou tão forte que não deu para ficar dormindo.” O professor, ainda, alerta: a piora da economia, que tira popularidade e voto de Bolsonaro, pode levá-lo a forçar uma ruptura institucional.
Folha – O jornal trazia de domingo a manchete-síntese da situação: “Com custo Bolsonaro, retomada fica em xeque”. E mais: “Rumo errático do governo afasta investidor, pressiona dólar, aumenta custo de vida e alimenta pobreza”.
Salários – Enquanto o mercado avalia riscos, o pobre se dana. Levantamento do Dieese mostra que, no primeiro semestre de 2021, 63% das negociações coletivas não conseguiram repor as perdas pelo INPC.
O segundo semestre não sinaliza com melhoras efetivas. A pauta dos metalúrgicos da Força Sindical no Estado de São Paulo reivindica vale-gás. Durante os governos Lula-Dilma, a categoria somou 14 anos de ganhos salariais reais e avanços em direitos.
Se uma categoria de tradição, como a metalúrgica, busca um abono para comprar botijão, imagine as demais, sem poder de pressão ou de mobilização.
MAIS – Estado de S. Paulo, Valor Econômico e Dieese.