O Planalto recebeu pesquisas apontando crescimento consistente da popularidade do governo nos últimos três meses, quando a diferença positiva entre os que dizem aprová-lo e os que desaprovam saltou para um saldo de quase vinte pontos.
A sensação hoje, no entorno de Lula, é de estar no caminho certo: redução da inflação, retomada dos programas sociais, aprovação da pauta econômica no Congresso e iniciativas que agradam setores da classe média – como o programa Desenrola – começam a se refletir na avaliação do governo. Nesse embalo, Lula vai investir na estratégia de focar em ações específicas para os segmentos da população que mais o rejeitam.
O pacote com medidas na área da segurança anunciado sexta-feira – e ainda não captado pelas pesquisas – é mais um exemplo disso. Os levantamentos mostram que o tema está entre as principais preocupações da população, afetando de forma transversal todo o espectro social – da classe média acuada pela violência nos grandes centros urbanos aos moradores de periferia subjugados pelo crime organizado e milícias.
Sem falar nos integrantes das próprias forças de segurança, em sua maioria bolsonaristas, mas com quem o governo Lula começa a dialogar – e o aumento dado aos PMs do DF, que lotaram a solenidade no Planalto, é só o começo. Da mesma forma, a decisão de mandar ao Congresso projeto tornando a violência contra escolas crime inafiançável vem como resposta à angústia das famílias diante de episódios aterradores – detectada também por pesquisas.
Lula já fez acenos ao agro, de quem continua se aproximando. Começou também a namorar os evangélicos, não apenas com medidas que favorecem os templos, mas numa reconciliação que envolve a Igreja Universal, a TV Record e o partido Republicanos. Vai focar ainda no público evangélico em programas que dialoguem com as mulheres, como o da escola em tempo integral e a expansão do Minha Casa, Minha Vida.
Essa estratégia, que exige recursos para programas e ações governamentais, tem como base uma boa trajetória da economia, que vem se confirmando em números e na aprovação ida reforma tributária e de outros projetos da pauta econômica no Congresso. Fernando Haddad se fortalece como articulador, partidos que estavam na oposição, como PP e Republicanos, resolvem entrar no barco governista. Nem mesmo a avidez do Centrão é vista como grande problema. A expectativa é de que, no final, tudo se ajeita quando um governo com popularidade crescente está na mesa.
O que pode dar errado? Na cabeça do presidente da República e de seus estrategistas, o que pode dar errado é a promessa de crescimento da economia se o Banco Central não começar a cortar os juros de forma. Nessa avaliação, a permanência da taxa Selic nas alturas pode colocar tudo a perder. Apesar da aposta geral de queda dos juros em agosto, a grande preocupação é quanto à velocidade dessa redução. É isso ainda é uma arma poderosa nas mãos de Campos Neto.
O presidente do BC agora é chamado de “sabotador” em gabinetes importantes. O episódio da semana – uma tentativa de Campos Neto de censurar entrevistas dos diretores da instituição – caiu muito mal no Planalto. Por lá, a percepção é de que, embora o atual governo tenha agora dois dos nove votos do Copom, ele continuará fazendo jogo duro nos juros, movido politicamente por seu DNA bolsonarista.
A área política do governo e o PT já receberam ordem pra redobrar a artilharia sobre o presidente do BC até a próxima reunião do Copom. Se a pressão não funcionar, e houver uma redução irrisória de 0,25%, o Planalto vai enfrentar a briga pela demissão de Campos Neto – o que demanda aprovação do Senado. Mas a avaliação é de que uma eventual estratégia de convencimento nesse sentido pode funcionar, dentro da politização que o tema já assumiu e com o apoio da opinião pública.
Helena Chagas. Jornalista, ex-ministra da Secom.