O plano de volta às aulas não tem professor

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Celso Napolitano é presidente da Federação dos Professores do Estado de São Paulo

Durante os três meses em que tem durado este período de suspensão de aulas, professoras e professores foram submetidos a um brutal excesso de trabalho.

As educadoras, os educadores, os profissionais de educação, não foram devidamente consultados quando se decretou a suspensão de aulas e, agora, não estão sendo levados em consideração quando se fala em relaxar a quarentena.

Voltar às aulas quando ainda não chegamos ao auge da pandemia será uma decisão irresponsável, certamente induzida por motivação política e não por critérios de saúde. Ao se planejar o retorno, os profissionais de educação devem ser ouvidos, devem participar na elaboração de protocolos de acolhimento, já que estamos na linha de frente da educação.

Não bastam critérios para a recepção de alunos nas escolas. Os seus pais e também os educadores devem ser ouvidos – e iremos ampliar o debate e até levar o caso ao ministério público, se a suspensão de aulas for relaxada antes que se tenha o controle do coronavírus.

No plano do Estado, apresentado no dia 24, apenas donos de escolas foram consultados. Nenhum professor, nenhum funcionário administrativo participou do planejamento até agora. A pedagogia, as relações de trabalho foram deixadas em segundo plano. Os docentes estarão expostos: mesmo o cálculo de 35% de alunos na primeira fase do retorno iria obrigar o professor a 100% de participação.

Durante os três meses em que tem durado este período de suspensão de aulas, professoras e professores foram submetidos a um brutal excesso de trabalho. Para evitar o contágio e a disseminação do vírus, a receita do afastamento social obrigou o fechamento das escolas e a recomendação de que todos ficassem em casa. Mas, ao contrário de muitos profissionais que interrompem seu trabalho quando confinados, professores foram instados a continuar trabalhando, continuar dando aulas, do jeito que desse, e com resultados preocupantes.

Em função dos decretos de quarentena, os professores foram abruptamente transferidos para o regime de teletrabalho ou home office. Essa mudança, de uma hora para outra, provocou uma alteração radical do planejamento pedagógico, pois a atividade docente realizada de modo presencial é substancialmente diferente daquela exercida em ambiente virtual.

Assim, é preciso notar que o que está sendo feito durante esta quarentena não é, tecnicamente, “ensino a distância”. O que temos agora são “aulas a distância”. Simplesmente, em um intervalo curtíssimo de tempo, os professores tiveram que alterar todo o seu planejamento e adaptar-se ao ambiente virtual, com todas as consequências que isso representa: falta absoluta de controle sobre o grupo de alunos, planejar o roteiro das aulas e transforma-las em videoaulas, lidar com equipamentos tecnológicos e transformar o ambiente da sua residência em “estúdios” de transmissão ou de gravação – uma verdadeira invasão no ambiente doméstico, em um momento em que a sua família estava também submetida ao isolamento social.

Colaboramos até agora. As educadoras, os educadores, os profissionais de educação, não foram devidamente consultados quando se decretou a suspensão de aulas e, agora, não estão sendo levados em consideração quando se fala em relaxar a quarentena. Os educadores são os elementos principais desta relação e nesse acolhimento no retorno às aulas. Nós, profissionais da educação, também temos que participar desse acolhimento. E temos também que ter nossa opinião levada em consideração e ser respeitada.
As nossas vidas, o nosso bem estar, também estão em jogo.