O sindicalismo brasileiro perdeu domingo, 21, um dos melhores dirigentes de sua geração. Aos 94 anos, morreu Francisco Cardoso Filho, o histórico Chicão.
Migrante, num dia de 1951 ele pegou um pau de arara no Interior do Ceará e rumou para São Paulo. Na Capital, trabalhou como servente de pedreiro, ajudante de caminhão, em churrascaria e depois conseguiu entrar no setor metalúrgico, que era o sonho de tantos migrantes.
Após trabalhar em São Paulo, mudou-se para Guarulhos nos anos 60. Aqui, trabalhou na Otto Deutz e depois na empresa Cummins. Em 1965, se tornou sócio do Sindicato e de 1987 a 2001 presidiu nossa entidade.
Liderança autêntica, capaz de se comunicar facilmente com a massa, Chicão se tornou um ícone da categoria. Não por outra razão, em abril do ano passado o Sindicato inaugurou o Memorial dos Metalúrgicos, nomeado Francisco Cardoso Filho.
Formado politicamente nos quadros do PCB, Chicão herdou a disciplina e a coerência dos bons comunistas. Foi eleito vereador pelo PSDB, na legislatura 2000-2004. Anos mais tarde, filiou-se ao PCdoB.
Sua atuação transpôs as fronteiras sindicais. Pode-se dizer que o Poupatempo de Guarulhos é uma conquista dos esforços de Chicão junto ao então governador Mario Covas, de quem era amigo.
No velório da segunda-feira, amigos, sindicalistas, lideranças e vereadores se lembravam da coerência e do caráter do companheiro. Destacavam também seu espírito bondoso e solidário, que eram a essência desse homem de fala forte e rascante, voz de um autêntico sertanejo.

No Sindicato, todos se lembram dos ensinamentos de Chicão, sempre o primeiro a chegar nos eventos, sem pressa de sair e deixar os companheiros. Exigia disciplina, mas era o primeiro a dar o exemplo.
O final dos 80 anos até o Plano Real foi uma época de grandes lutas, pois a inflação alta corroía o poder de compra dos trabalhadores. Francisco Cardoso Filho liderou muitas greves e protestos, sempre com firmeza e a palavra certa a seus companheiros.
Chicão morreu em 21 de abril, que é o Feriado de Tiradentes, patrono dos Metalúrgicos. Saiu desta vida numa data profundamente ligada à sua história e trajetória. Morreu cercado dos cuidados de seus familiares.
Penso que é nosso dever valorizar, sempre, os velhos companheiros e companheiras. Hoje, na democracia, o sindicalismo não sofre perseguições do Estado. Mas na ditadura muitos foram presos, perseguidos, torturados, exilados ou mesmo mortos.
Exemplos como o companheiro Chicão nos enchem de orgulho e alimentam nossa esperança em um mundo mais justo, em um Brasil mais pacífico e igualitário. Francisco Cardoso Filho presente!
Josinaldo José de Barros (Cabeça), Presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Guarulhos e Região. Diretoria Metalúrgicos em Ação.