Rotatividade, qualificação e, principalmente, a falta de uma política nacional de emprego estão entre as razões apontadas pelo Dieese
Enquanto a taxa de desemprego do segundo semestre deste ano chegou a 14,3%, atingindo mais de 13,7 milhões de trabalhadores e trabalhadoras, entre os mais jovens, de 18 a 24 anos, a taxa pulou para 29,7%, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A crise econômica, a rotatividade, a falta de qualificação, a alta informalidade do mercado de trabalho e, principalmente, a desigualdades e a falta de uma política nacional de emprego são alguns dos principais motivos para a alta taxa de desemprego entre os jovens, pontua o economista do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) Daniel Ferrer de Almeida. E ainda tem o golpe de 2016 que destituiu a presidenta Dilma Rousseff e colocou no poder políticos conservadores e suas práticas neoliberais, complementa Daniel que é também doutorando em Direito do Trabalho pela Universidade de São Paulo (USP).
“A estrutura produtiva brasileira está sendo destruída desde o golpe contra a presidenta Dilma e isso afeta toda classe trabalhadora, em especial os mais jovens”, diz.
“Com a desindustrialização, por exemplo, mesmo se tivesse um incentivo de qualificação não teria postos de trabalho para todo mundo. A política de Temer e agora de Bolsonaro tem desvalorizado o câmbio para exportar mais e a balança comercial bate recorde deficitário todo mês, isso implica em geração de emprego fora do país e não aqui dentro”, explica Daniel se referindo ao golpista Michel Temer (MDB) e a Jair Bolsonaro (ex-PSL) que assumiu em 2019.
De acordo com estudo feito pelo Dieese sobre as taxas de “Rotatividade e Flexibilidade no Mercado de Trabalho”, em 2018, 103,8% destes jovens com remuneração de até um salário mínimo e meio trocaram de emprego em um ano. Isso quer dizer que todos os jovens com carteira assinada, às vezes mais de uma vez, trocaram de emprego num período de 12 meses.
São jovens que começaram a trabalhar mais cedo para ajudar a família, saíram da escola, não conseguiram se qualificar para conseguir uma colocação melhor, disputar uma vaga com quem teve oportunidade de estudar e vivem mudando de emprego ou sendo demitidos, ocupam os cargos mais precarizados, explica Daniel.
A secretária de Juventude da CUT, Cristiana Paiva Gomes, concorda que depois do golpe de estado a situação piorou ainda mais para os jovens até mesmo porque a reforma Trabalhista de Temer, que entrou em vigor em 2017, legalizou o bico, autorizando contratos de trabalho intermitente e outros que desprotegem os trabalhadores.
“O que estão fazendo desde quando o golpista Temer assumiu é acabar com o emprego digno e com as oportunidades para os jovens trabalhadores do campo e da cidade se inserirem no mundo do trabalho”.
“A gente não tem política que dê condições destes trabalhadores estudarem e se preparem com qualidade para conseguirem bons empregos, o liberalismo trabalha para ter mais mão-de-obra barata visando mais lucro”, complementou Cristiana.
Antes do golpe, diz a secretária, a CUT junto com empresários e trabalhadores que fazem parte da Organização Internacional do Trabalho (OIT) estavam construindo uma política Nacional de Emprego que foi desmontada depois que destituíram a ex-presidenta Dilma. Da mesma forma que atacaram a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a Previdência Social. “Como a CUT sempre alertou, o golpe foi contra a classe trabalhadora”.
Sindicalismo e juventude
Existem caminhos para muda este cenário trágico para os jovens, diz o economista do Dieese. Segundo ele, os sindicatos podem cumprir um papel de intermediador entre empresa e jovens para contribuir com a qualificação técnica e específica para determinados postos de trabalho e podem, inclusive, ajudar oferecendo opções de cultura e lazer para evitar que estes jovens sigam por outros caminhos.
“O sindicatos podem contribuir decisivamente na mobilização da sociedade como um todo contra, por exemplo, a proposta de redução da maioridade penal porque é uma proposta reacionária que responde a falta de oportunidades de jovens com a política de encarceramento.
E de fato o que é preciso é uma política nacional ou de estado orientada à promoção da qualificação profissional e de condições adequadas de educação no trabalho e lazer”, explicou.
A proposta é boa, ma esbarra em outro problema, diz a secretária da Juventude da CUT. Segundo ela, mesmo entre os jovens empregados formalmente a maioria não se sindicaliza e quando se associa a alguma entidade de classe é por volta dos 30 anos porque não entendem o papel e a importância dos sindicatos.
“A CUT tem trabalhado muito esta questão de ampliar a participação dos jovens nos sindicatos, com apoio da Confederação dos Sindicatos Alemães, a DGB, estamos dialogando com a sociedade sobre a importância dos sindicatos na proteção do emprego, por melhores condições de trabalho e até na manutenção dos empregos”, diz.
“Com isso esperamos mudar um pouco desta realidade brasileira, mas é preciso também mudar este governo e termos um presidente que ser preocupa de verdade com o país e com os jovens”, complementa Cristiana.
*Edição: Marize Muniz
Fonte: CUT / Foto: Observatório Paraense do Mercado de Trabalho