Reflexões sobre a popularidade do presidente Lula – Neuriberg Dias

0
23

A popularidade do presidente do país é indicadora crucial do governo, que reflete tanto na percepção da sociedade em relação ao desempenho pessoal do mandatário, quanto do governo como um todo.

lula popularidade
Lula, em evento no Ceará, em 4/08/23: presidente quer usar agenda econômica e social para ampliar popularidade com empresários e classe média | Foto: Ricardo Stuckert/PR/Flickr

Embora as pesquisas e seus resultados estejam intrinsecamente ligados à figura pessoal do presidente, eles também são influenciados por fatores externos, como a conjuntura econômica e social vigente em determinado período.

Durante os 2 primeiros mandatos — 2003-2006 e 2007-2010 —, o presidente Lula alcançou níveis recordes de popularidade. No entanto, tem enfrentado desafios para manter ou melhorar a avaliação próximo à população, durante este terceiro mandato à frente no Planalto.

A análise de popularidade dos presidentes, ao longo do tempo, em conjunto com os resultados das eleições, a composição da base congressual e a relação entre Legislativo e Executivo publicadas na Radiografia do Novo Congresso pelo DIAP1, propicia perspectiva histórica valiosa para entender os atuais desafios na presente conjuntura para o ocupante da cadeira no Executivo federal.

popularidade dos presidentes

Desde 2015, as eleições têm sido marcadas por resultados acirrados, culminando na menor diferença registrada em 2022, entre o candidato eleito e o derrotado, que buscava à reeleição. Esse cenário tem exacerbado a polarização política no País, refletindo-se em maior divisão entre os eleitores, o que evidencia e destaca as divergências ideológicas na população.

Exacerbação das divergências ideológicas
Tradicionalmente, o governo Lula colheu os frutos da imagem pessoal de bom negociador e das decisões acertadas na área econômica e social, que conduziram à melhora evidente da qualidade de vida da maioria dos brasileiros.

No entanto, a exacerbação das divergências ideológicas, com o uso dos novos meios de comunicação como arena de disputa, inclusive pautadas com muitas desinformações, tem contribuído para levar a disputa para terreno menos favorável ao presidente, com predomínio das pautas de costume e morais.

As novas lentes para avaliar o governo parecem turvas, na atual conjuntura política, inclusive os ganhos econômicos da atual gestão, o controle da inflação, aumento do emprego e da renda, que garantia tradicionalmente, melhor percepção sobre a avaliação do desempenho do presidente da República.

Isso pode ser percebido pelas decisões tomadas pelos outros Poderes — Legislativo e Judiciário — sobre questões polêmicas na sociedade, como a sanção da lei que irá acabar com a saidinha nos presídios ou a definição do que caracteriza tráfico ou consumo de drogas, em detrimento dos significativos impactos que a agenda governamental tem gerado nas esferas social, econômica e política no País.

Congresso empoderado
O empoderamento do Legislativo tem sido cada vez mais significativo, e isso influencia diretamente a governabilidade e as políticas implementadas pelo presidente da República. O aumento do valor das emendas impositivas e as transferências especiais desses recursos, vinculadas diretamente às bases eleitorais, têm dado maior visibilidade ao mandato parlamentar em detrimento das políticas públicas do Executivo.

Neste cenário de rivalidade sobre a condução do País, a pressão sobre a avaliação do presidente é ainda maior. Recentemente, o Congresso Nacional obteve avaliação mais positiva desde 2003, que evidencia o protagonismo dos deputados federais e senadores da Republica, na entrega de pautas essenciais para o desenvolvimento do Brasil.

A governabilidade tem sido desafiada, com base parlamentar independente e frente ampla de partidos, o que dificulta a visibilidade e integração das iniciativas de políticas públicas do Executivo e isso exige habilidades políticas excepcionais para garantir o funcionamento eficaz do governo, e o protagonismo do Poder Executivo na condução do País.

Sindicalismo e progressismo
Nesse contexto desafiador, o movimento sindical e os partidos progressistas, precisam ampliar as ações para além de suas bases tradicionais, destacando as conquistas econômicas e sociais alcançadas pelo atual governo, de forma permanente na sociedade.

E, ainda, reforçar a atuação no Poder Legislativo, com vistas a melhorar a representação. A articulação entre o governo, ministérios, Câmara e Senado nunca foi tão importante para o destino positivo do governo.

Essa medida torna-se imprescindível diante da perspectiva de que esse cenário de popularidade possa perdurar até a próxima disputa presidencial em 2026, vez que os preparativos para manter esse clima político de campanha já começaram a se delinear desde 2023.

A vitória de Lula — em 2022 — não foi de Pirro2. E as próximas eleições (municipais) poderão selar a capacidade de o governo ganhar musculatura política para 2026, garantindo-lhe governabilidade, em possível segundo mandato.

https://centrodametropole.fflch.usp.br/pt-br/presidentes-e-governadores/presidentes/datafolha/avaliacao

(*) Jornalista, analista político e diretor de Documentação licenciado do Diap. Sócio-diretor da Contatos Assessoria Política