A Petrobras é a maior empresa brasileira em valor de mercado, avaliada em R$ 410 bilhões. No ranking mundial, foi a terceira petrolífera mais lucrativa do mundo no primeiro semestre.
Então, está tudo bem na empresa criada por Getúlio Vargas e que acaba de completar 72 anos? Não é bem assim, pelo menos na avaliação da Federação Nacional dos Petroleiros – FNP.
A Agência Sindical conversou com o secretário-geral da entidade, Eduardo Henrique Soares da Costa. Ele é do Rio de Janeiro, técnico do Centro de Pesquisas, na Ilha do Fundão.
Funcionários – “A empresa tem hoje 48 mil empregados próprios, em toda a holding. E quase o triplo disso em termos de terceirização”, ele afirma.
Para o dirigente, a terceirização é um dos graves problemas na empresa. O terceirizado ganha menos, enfrenta piores condições de trabalho e é a maior vítima dos acidentes, num setor onde a insegurança é forte. “O terceirizado é quem vai mais pra boca do poço”, comenta Eduardo.
Segundo o secretário-geral, “o corpo técnico da Petrobras, como engenheiros, geólogos, pessoal da informática e outras funções, mantém a excelência dos serviços”. Mas são áreas onde também falta pessoal e utilizam-se terceiros.
Eduardo Henrique Soares da Costa é funcionário concursado. Ele, porém, reclama da falta de concursos suficientes para suprir mão-de-obra, especialmente em setores mais especializados.
A terceirização também agrava a insegurança, inclusive com vítimas fatais. “O último aconteceu há cerca de um mês”, conta Eduardo. Segundo o dirigente, muitas das atividades na empresa requerem “procedimentos robustos, o que acaba prejudicado pelo acúmulo de tarefas e rotatividade alta entre os terceiros”.
Privatização – Esse é o grande espinho na garganta da Federação e dos trabalhadores. O governo detém a maior parte das ações. Porém, o avanço do setor privado tem se acelerado, via controle acionário e também por meio da exploração de novos poços. “Se parassem com a exploração privada dos poços já seria uma avanço”, pondera Eduardo.
Ao completar 72 anos, a Petrobras vê o bolo da riqueza ser cada vez mais partilhado entre empresas e investidores privados. O secretário-geral da Federação critica a repartição: “Somos a 14ª petrolífera do mundo, mas em distribuição de dividendos somos a segunda”. Ou seja, “boa parte do lucro vai pra fora do País ou fica com os donos das ações”. Os dividendos “bilionários” poderiam, segundo o sindicalista, ser investidos na própria empresa, em projetos sociais ou em melhoria salarial.
O esgotamento da parcela nacional da nossa maior empresa tem sido contínuo, em todos os governos, embora com Bolsonaro a situação tenha piorado com o agravamento da remessa de lucros e também por meio de privatizações. Para Eduardo Henrique Soares da Costa, “investimento é o nome bonito que se dá ao avanço do setor privado nas atividades da empresa”.
O dirigente lamenta o desmantelamento: “Quatro refinarias foram vendidas e também a BR Distribuidora – apesar de a Vibra manter nos postos de combustíveis a bandeira BR”. O remédio? Reestatizar.
Privatização escandalosa se deu com a venda dos dutos da Petrobras. A empresa vendeu os dutos por valores irrisórios e agora paga caro pelo aluguel dos mesmos dutos. A Federação cobra o reaproveitamento dos demitidos da BR Distribuidora, como também a retomada do mercado de distribuição.
Mas o que o cidadão comum ganharia com a reestatização e a mudança de gestão? Eduardo responde: “Ao colocar a Petrobras a serviço do povo brasileiro, haveria redução no preço da gasolina, do gás e demais produtos da petrolífera, como também maior geração de empregos, além de uma ação mais efetiva na questão da transição energética”. A Federação (FNP) tem estudos nesse sentido. Hoje a Petrobras pauta sua política de preços pelas regras do mercado internacional.
O dirigente informa que dia 22 haverá mais um leilão na Petrobras. Essa política, ele aponta, faz com que hoje mais de 40% do pré-sal já esteja em mãos do mercado privado.
FNP – A Federação não se filia a Centrais. A data-base da categoria é 1º de setembro. A campanha é coordenada pela Federação, sem impedir que seus quatro Sindicatos (RJ, Litoral Paulista, Alagoas e Sergipe) possam firmar acordos coletivos.
MAIS – Site da Federação.









